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quarta-feira, 29 de novembro de 2023

Minha esposa é minha cúmplice!

   


Um post para celebrar o nosso aniversário de casamento.


    Sempre que penso em nós dois, em mim e na Lu, vem à mente a palavra cumplicidade. Esta palavra, escandalosa para algumas pessoas, traz consigo um forte aspecto cultural de ilegalidade, criminalidade, “formação de quadrilha”. Todavia, essa é apenas uma de algumas acepções possíveis.

    Certamente, a primeira definição que o Houaiss nos apresenta vem do ambiente do direito penal: fala-se de alguém “...que contribui de forma secundária para a realização de crime de outrem”.

    Ora, mas se o casamento entre um homem e uma mulher, esta instituição chamada família tradicional, tem sido uma pedra de tropeço para muitos que têm lutado pelo new establishment, então, evidencia-se o crime que cometemos aos olhos deles: insistir que o matrimônio é uma instituição divina, que foi planejada originalmente para firmar a aliança entre um homem e uma mulher para a glória de Deus.

    Por extensão, Houaiss indica que a palavra cumplicidade pode ser aplicada, tão simplesmente, àquela pessoa que “colabora na realização de alguma coisa; sócio, parceiro”. A partir daqui, fica menos espinhoso o uso do verbete, pois é fácil perceber que o casamento visa a co-laboração, o trabalho, o labor dos dois em prol de um mesmo objetivo. Nestes termos, não há casamento sem sociedade, sem parceria.

    A família é uma equipe, a sua melhor equipe! Sempre digo às minhas filhas: “Olha! Somos uma equipe, vocês fazem parte da equipe do papai”! Não podemos nos abandonar, nos dividir, pois até o diabo sabe que um reino dividido contra si mesmo cai e vai à bancarrota.

    A família é um time, em que todos somos verdadeiramente responsáveis pelo sucesso dessa maravilhosa empreitada de glorificar a Deus tanto nos nossos sucessos, quanto nas nossas derrotas; tanto na saúde, quanto na doença; tanto no amor, quanto na dor; tanto na alegria, quanto na tristeza.

    Este foi o pacto, esta é a aliança. Casamento é um pacto e surpreendo-me quando vejo que o diabo e seus anjos conseguem compreender isso muito melhor do que a própria Igreja de Jesus. O diabo entende de pactos; muitas vezes, a Igreja não.

    Há outra acepção da palavra cúmplice, segundo Houaiss, há um sentido figurado “que apresenta intenção repreensível, maliciosa ou sugestiva”. Verdade. Essa malícia ocorre toda vez que os olhares se postarem, indevidamente, para fora dos limites do matrimônio. Entretanto, quando nossos olhos se voltam sempre sobre o nosso cônjuge, veja a ironia da linguagem, podemos muito bem sugerir ideias deliciosamente calientes um ao outro e, indubitavelmente, nada disso será repreensível por parte de Deus.

    Minha esposa é minha cúmplice! Porque, ainda segundo as acepções de Houaiss, ela possibilita, favorece, concorre em favor da realização do meu ministério. Quero, portanto, respondê-la em amor: fazer sempre o mesmo por ela. Quando eu ainda estava noivo da Lu, a minha oração a Deus mais frequente era: “Senhor, faz de mim um homem de verdade para ela”.

    Todos sabemos que, infelizmente, muitos casamentos são acéfalos por estarem destituídos de homens que assumam suas devidas responsabilidades como homem, marido, pai. Como dizem, não basta estar casado, tem que participar: participar da vida do cônjuge!

    Enfim, na história dessa palavra cumplicidade, há lições que deveríamos trazer para dentro do nosso casamento. Veja: cumplicidade e complexidade andam juntas, como que por um charme da língua portuguesa. É necessária a complexidade dessa união ou, dizendo de outra maneira, é preciso esse estar junto na cumplicidade complexamente. Vamos brincar um pouco mais com as palavras?

    Cumplicidade, complexidade, complicar... Por que não? Mas só no bom sentido dessa com-plica-ção, que é “estar junto, dobrado na mesma pele, enroscado sobre a mesma dobra”.


    Então, estejamos assim bem juntinhos, bem complicadinhos, para nunca descomplicar esse cordão de três dobras e podermos curtir essa benção maravilhosa de estar casado.


Fábio Ribas

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    Originalmente, este texto foi publicado em 12 de março de 2015. E nem era aniversário de nosso casamento! E este texto vinha ainda acompanhado de um vídeo que fizera em homenagem à minha esposa. Segue abaixo:




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