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quinta-feira, 19 de setembro de 2024

Introdução à Nova Ordem Mundial (XXXIX/2024)


O professor Alexandre Costa nos apresenta um livro que não apenas mostra os atores por trás de toda a discussão sobre a Nova Ordem Mundial, como também traz ao leitor uma obra de referência, exatamente porque consegue reunir todos os milhares de temas dispersos pelo universo da Internet sobre o assunto.

O autor inicia o seu livro mostrando os três grandes agentes dessa Nova Ordem Mundial: o comunismo, o islamismo e os globalistas, cujo alvo principal é derrubar a cultura judaico-cristã, porque eles só poderão iniciar uma nova sociedade retirando o cristianismo da mesa de jogo. Para mim, essa tese é muito coerente e sem grandes dificuldades de ser constatada na história recente da humanidade. Contudo, é na orquestração de uma sinfonia sob a batuta dos três, ou de um deles no controle majoritário dos planos, que começa a desconfiança nos leitores mais atentos (ou céticos). Não é difícil perceber que, vez ou outra, pontualmente, há alianças entre comunistas e islâmicos na história dos últimos anos. Assim como, por razões de poder e financeiras, notamos as alianças entre globalistas, que são os detentores das imensas fortunas, e islâmicos também. A questão é se os três, conjuntamente, ou um deles, ou ainda um quarto poder por trás dos três, poderiam, na verdade, receber a alcunha de “os donos do poder”. Quanto mais avançamos na leitura do livro, ainda que concordemos com os fatos ali narrados, é na hora de entrelaçar e de imaginar um Ditador único ou mesmo um grupo manipulador, ou até mais grupos agindo em favor ou uns contra os outros, e todos numa atuação global, que a tese, então, perde a sua força. Veja bem, a premissa é verdadeira: os três grupos apresentados querem tirar o cristianismo do jogo, porque é o obstáculo único que os impede de avançar uma agenda que vai contra tudo aquilo que se chama Deus. A conclusão é o que não encontra bom senso e o silogismo não funciona satisfatoriamente, talvez pelo excesso de atores e atuações que são dispostos sobre o palco.

O autor segue mostrando os prováveis grupos que seguram as cordas que movem o mundo. Desde as famílias mais ricas, como os Rockfellers e os Rothschild, passando pelas inúmeras sociedades secretas e outros grupos como a Society Fabian, Maçonaria, Illuminat da Baviera, Golden Dawn e Fundações, até explanar também o modo desses grupos agirem por meio de outros grupos e entidades como a ONU, o Foro de São Paulo, o Clube de Bilderberg, NASA, FEMA, etc. Enfim, como disse, está tudo no livro. Todos os personagens e grupos são descritos. A maioria dessas organizações e personagens já nos são conhecidos, mas o próprio autor, por mais de uma vez, diz que “sobre isso”, isto é, sobre o entretecimento de uma rede tão detalhada e extensa entre eles não se tem provas. Portanto, embora haja fatos, há também muita especulação. E não só isso, na hora de amarrar fatos e especulações sobre fatos, tentando enganchar uns nos outros, tudo se complica. Tudo se complica tanto, que, num determinado ponto do livro, o autor relembra a “navalha de Ockhan”, cuja tese defende que só a hipótese mais simples deve ser considerada. Evidentemente, ele precisa questionar esta “navalha”, pois ela não sustentará uma hipótese que amarra tudo o que já foi tratado no livro com ainda outros temas infindos como a Besta da Bélgica, lavagem cerebral, programa MK Ultra, HAARP e Chemtrails.

Aqui, quero repetir que, em certa medida, acredito em muitos fatos tratados pelo autor, pois são fatos! Os grupos existem, as pessoas também. Acredito em planos megalomaníacos, em projetos ocultistas para a derrubada do Cristianismo; creio mesmo em corporações e planos governamentais para a derrubada de desafetos e instalação de líderes bonecos nas mãos de seus Senhores etc. Porém, o que não posso acompanhar é a extensão da amarra de todos esses fatos como é proposto no livro. Em muitos momentos, o próprio autor compreende que é um terreno de muitas especulações, diversas suposições e poucas provas que liguem os elementos mais importantes uns aos outros. Inusitadamente, o oposto também se observa: parece existir uma quantidade enorme de situações divulgadas na mídia que revelariam o comprometimento de personalidades com tudo isso. Parece…

Há três questões que me incomodaram não apenas durante a leitura desse livro, mas em todas as discussões que tenho tido a oportunidade de assistir e participar, desde os áureos tempos do true outspeak do Professor Olavo de Carvalho.

Meu primeiro incômodo é que, embora os adeptos dessa visão sobre a Nova Ordem Mundial falem várias vezes em “nuvens de fumaça”, que desviariam a atenção do público daquilo que os “donos do mundo”, de fato, estariam tramando e fazendo, acredito eu que, da maneira que o tema tem sido apresentado por todos estes anos, são os adeptos dessas teorias conspiratórias os que mais fazem fumaça para nos desviar daquilo que realmente importa! O que eu quero dizer é que são tantos meandros, tantos desdobramentos, tantas teorias, tantos “pode ser”, “não sei”, “talvez” etc, que os que se embrenham por essas trilhas de pesquisa se amarram em redes que os impedem de discutir e agir da maneira que realmente se esperaria que um cristão tratasse de tais assuntos.

O segundo incômodo, que agora apresento como consequência do que eu acabei de dizer no parágrafo acima, é que essas teorias todas são defendidas por católicos e evangélicos, que, ao criarem um inimigo comum, deixam de tratar temas que seriam fundamentais entre eles. Tenho visto católicos tomarem posse do discurso neopentecostal, a ponto de dizerem que o que legitima o cristianismo é o milagre e não a verdade da Palavra de Deus! Evangélicos passam horas e horas em discussões sobre “realidades”, às quais pouco ou nada podem fazer — “só alertar” — é o que sempre dizem sobre essas conversas sem fim. Mas “só alertar” tem sido apenas trazer outros para uma armadilha alienadora do que realmente importa. Vejo católicos conversando com evangélicos (e outros que até se dizem protestantes) sobre a catequização dos povos bárbaros, o fim do paganismo pelo avanço evangelístico romano nos primeiros séculos, etc, etc e etc, sem que ninguém os confronte sobre os resultados desastrosos da entrada do paganismo dentro do romanismo. E o que parece calar uma discussão evangélica e protestante em determinados ambientes é essa nuvem de fumaça, que é o conjunto de teorias mirabolantes da Nova Ordem Mundial, fazendo com que os evangélicos e protestantes se distraiam acusando um inimigo comum, que, veja bem, pode até mesmo não ser nem metade do que se apregoa.

O terceiro incômodo é um desdobramento dos outros dois. No final do livro do professor Alexandre Costa, há uma indicação bibliográfica e, logo na primeira linha, aparece o livro “AA-1025 Memórias de um anti-apóstolo — Autor Desconhecido”. Sobre o que trata esse livro? Alega-se, pois nem se conhece o autor, que esse seria um ex-comunista entregando suas estratégias para minar a Igreja Católica por dentro. Mas o que, entre tantas coisas, ele fala? Que o objetivo era destruir o “marianismo” e a “intercessão dos santos”, fazer com que os fiéis desacreditassem das aparições de Maria e parassem de rezar o terço… Entendeu? Evangélicos e protestantes são trazidos a uma arena em que não é a Palavra de Deus sua única regra de fé e prática; uma arena em que há um inimigo comum, mas que é oculto; nessa arena, o que importa são os milagres e não a verdade da Palavra de Deus (e milagres a gente vê em todo lugar, não é mesmo? Até entre católicos e evangélicos também!); e, enfim, avançar contra as doutrinas romanas seria coisa de comunista ou, pelo menos, é dar ao inimigo a vantagem, já que o “nosso exército” se divide, caso pregássemos contra essa velha idolatria romana de sempre.

O que me surpreende nessa conversa toda é que, depois de horas e horas tentando dar nomes aos atores da Nova Ordem Mundial e armar um enredo em que todos possam participar dessa novela, é dito que não se pode mesmo fazer muita coisa. Então, responda-me: para que conhecer o bem e o mal, se abrimos mão da luta pela verdade bíblica? Que conhecimento é esse que lança uma nuvem de fumaça sobre verdades inegociáveis da Palavra de Deus? Por que pessoas se deixam levar por discursos que tanto as angustiam e as deixam vulneráveis não aos “donos do poder”, mas aos “Donos do conhecimento”? Sobre isso, basta você ver os comentários feitos, logo após a exposição de todas essas teorias nessas lives e palestras: “Meu Deus! O mundo vai acabar”, “Não vou ter filhos num mundo assim”, “o diabo está enganando todo mundo” etc. O que falta a essas pessoas que se dizem evangélicas e protestantes e que terminam se prendendo a coisas assim? Vou dizer, enfim, a minha opinião sobre isso.

1º) Sede de saber — a proposta continua a mesma desde o Éden. Um saber que lhe oferece o conhecimento do bem e do mal, mas fora da Palavra de Deus. E os seguidores que se dizem evangélicos e protestantes não percebem isso? Há o uso de uma linguagem gnóstica, porque o conhecimento é oferecido aos iniciados e, quanto mais passos são dados na direção desse conhecimento, mais conhecimento você terá. Esta é a promessa da serpente. Como toda seita, são oferecidas verdades, mas em meio a mentiras. Esta é a estratégia da seita: oferecer espinha de peixe enrolado em biju grosso. A cobeligerância entre protestantes, evangélicos e católicos jamais pode ser na área da tutela ou mentoria intelectual, pois isso também é jugo desigual. Podemos ler, estudar juntos, mas jamais nos submeter ao silêncio quando expostos às doutrinas antibíblicas.

2º) A Bíblia não é a única regra de fé e prática — há uma reedição teológica, mas que é comum no campo da esquerda e da direita políticas, em que é o meio que se impõe sobre a Bíblia e não o contrário. É uma teologia pragmática, que é a mesma usada pela TMI, TL e demais “evangelhos de justiça social”. Portanto, não é de se surpreender que nesses ambientes conspiratórios o milagre justifique o santo ao invés da Bíblia julgar o milagre. Não são apenas evangélicos e protestantes fracos teologicamente, que vemos cair na sedução desse gnosticismo romano, que, sem dúvida, em muitas frentes se vê envolvido por algum grau de ocultismo. Porém, independente dos que vemos caindo nessas ciladas, todos têm algo em comum: abraçam uma tradição filtrada por um revisionismo histórico romano (que não considero de todo equivocado) e abrem mão da Bíblia como única regra de fé e prática para suas vidas.

3º) Desconhecem as doutrinas basilares da fé Reformada e suas implicações, a saber, além da Sola Scriptura, a Soberania e Providência divinas; e a Primazia e Suficiência de Cristo — Não tenho dúvida que muitos dos que se dizem evangélicos e protestantes, desconhecem a Fé Reformada ou foram mal discipulados nela. Vemos cristãos abrindo mão da autoridade bíblica sobre suas vidas, ao mesmo tempo em que abraçam tradições abomináveis a Deus. É impossível não ouvir a voz de Paulo aos Gálatas, que também queriam associar outros conhecimentos ao conhecimento único do Evangelho que lhes fora apresentado: “Ó, Gálatas insensatos”! E o pior é que se conhecessem de fato as implicações da Soberania e Providência divinas não se lançavam em uma rede de especulações que em nada traz crescimento espiritual ou os torna mais parecidos com Cristo! Soubessem, de fato, da Primazia e da Suficiência de Cristo jamais aceitariam comer na mão de idólatras!

Conhecessem a Palavra de Deus, saberiam que Satanás é um cachorro na coleira de Deus e que “os donos do poder” fazem parte do Plano de Deus para entregar cada vez mais à mentira aqueles que se negaram a aceitar a verdade (II Tessalonicenses 2). Há muito que falar sobre este assunto e outros afins, mas abordarei mais adiante em outros livros. Por agora, encerro apenas retornando ao que fiz referência algumas vezes durante este texto: há uma nuvem de fumaça desviando a atenção de evangélicos e protestantes ao que, indubitavelmente, importa: “fazer discípulos de todas as nações”! Tenho visto jovens darem o melhor de suas energias às especulações levantadas pela Nova Ordem Mundial, contudo, a falta de uma boa teologia os faz se desviarem do que realmente importa. O meu desejo é que nossos jovens, tão inteligentes e sedentos de aprender mais, possam buscar o Senhor enquanto se pode achar (Isaías 55:6), que eles busquem o verdadeiro conhecimento, que se encontra somente em Jesus Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus (I Cor 1:24).

                    Fábio Ribas

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