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sábado, 2 de setembro de 2023

Dias índios - um convite à leitura (I/2023)


O que você, de fato, conhece sobre os povos indígenas do Brasil? Ouvimos muitas opiniões e discursos de ONG's e Universidades sobre os povos indígenas no Brasil, mas e você? Se você tivesse a oportunidade de morar com um desses povos e imergir em sua língua e cultura, o que será que você aprenderia e poderia compartilhar com os outros?

O autor de "Dias índios", Fábio Ribas, formado em Letras e Teologia, convida a cada um de seus leitores a acompanhar o tempo em que ele e sua família viveram entre um dos tantos povos indígenas no Brasil. Afinal, segundo o Censo Demográfico do IBGE de 2020, os povos indígenas formam 0,8% da população nacional. Contudo, o que poucos sabem é que, nessa fatia apresentada pelo Censo, há mais de 180 línguas faladas, distribuídas em quase 500 etnias indígenas culturalmente diferentes umas das outras e todas espalhadas do Oiapoque ao Chuí! O autor morou sozinho na casa do cacique com outros 48 indígenas, entre crianças, jovens e adultos, por seis meses, antes que sua família pudesse morar com ele numa "casa própria" na aldeia.

Durante aqueles primeiros seis meses, o autor compartilha fatos culturais que ele jamais teria tido conhecimento, caso já tivesse, desde o início, morado ali com sua família. Dentro da casa do cacique, aquele arrebol cultural se revelou diante dele com toda sua força. Desde pajelanças para a cura de doenças que afligiam aquelas famílias; os ritos de reclusão, em que meninos e meninas adolescentes podem ficar isolados do convívio social, em espaços mínimos, por até três anos; os banhos com ervas para o fortalecimento espiritual e físico e o rito com a arranhadeira por todo o corpo para que o sangue doente saia; as diversas festas de casamento e os ritos de passagem e de funeral, que ocorrem na cultura; além disso, muitos outros fatos pouco conhecidos e que só puderam ser vistos de perto por causa desse momento inicial na casa com aquelas famílias. Assim, o autor também traz realidades culturais mais delicadas como casos de possessão que podem levar à morte; a triste realidade do infanticídio, que tem sido questionado por muitos pais indígenas; o abandono dos mais idosos até sua morte por inanição; os casos de incesto, que ocorrem, embora não sejam bem vistos pela própria cultura; e a punição sexual coletiva contra as mulheres que quebrarem a regra cultural que as proíbe de ver a flauta Jacuí.

Todos esses fatos são apresentados a partir da perspectiva de quem foi chamado pelo próprio povo para ajudá-los na formação da Escola na aldeia. Já havia dois professores indígenas ensinando as crianças na língua, mas era desejo deles oferecer a continuação dos estudos para os jovens também. Como o olhar do autor é um olhar cristão, ele também nos mostra como é falacioso o estigma que paira sobre o trabalho missionário, de que este seria um "destruidor da cultura". Uma vez que, aos que vivem de fato em meio a essas culturas, é apresentada a destruição real pela entrada de bebidas alcoólicas e drogas, da prostituição e abuso sexual e exploração de interesses tanto financeiros como de ONG's e Universidades, que impedem os indígenas de se defenderem da chegada inevitável do mundo majoritário que os cerca e invade. A presença missionária tem se mostrado uma barreira auxiliadora na defesa da integridade desses povos contra a violência exploratória de grupos que vivem da dependência deles. Por tudo isso, vemos que o discurso sobre a autonomia do indígena no Brasil só funciona para beneficiar aqueles que os aleijam de seus reais interesses e vontade sobre o que os próprios indígenas desejam para seus povos. As aldeias estão sendo invadidas com o pior da cultura não indígena que as cercam e destroem, enquanto que os anseios de povos, que querem conhecer e avançar sobre o mundo, tomando, assim, em suas mãos, o controle de suas histórias, têm sido negados a eles.

O livro irá mostrar que não há imposição alguma, mas uma oportunidade de aprendizado mútuo e que ambos se beneficiam nesse encontro de suas espiritualidades e da liberdade de escolhas que podem surgir na caminhada e no diálogo entre os povos e seus conhecimentos. Assim, onde há morte, há a apresentação de uma vida, da verdadeira vida que tem sido oferecida não apenas aos povos indígenas do Brasil, mas às mais diversas culturas do mundo nestes últimos milênios. Por tudo isso, "Dias índios" é um convite a ouvir os outros com toda a liberdade.

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