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sábado, 13 de janeiro de 2024

Rookmaaker - arte e mente cristã (II/2024)

 

    “Para muitos europeus cultos, a arte cheia de beleza e grandeza das conquistas passadas do ser humano era um substituto à religião. Para uma minoria influente e altamente intelectual, a arte tornou-se um palco de fúria e descontentamento, especialmente após o fracasso da Segunda Guerra Mundial e o colapso da confiança em uma ordem moral duradoura. Em ambos os lados do Atlântico, a igreja, desafiada por uma nova sociedade e não totalmente confiante em sua identidade, muitas vezes fechou os olhos e ouvidos à cultura, ignorando as tendências ou ficando na defensiva” (p. 14).

    As páginas iniciais de “Rookmaaker - arte e mente cristã”, Laurel Gasque, são sobre os avós e pais do biografado. Sua infância e suas tantas idas e vindas com sua família, sempre mudando de casa e país por causa do trabalho. Rookmaaker nasce em 1922. Hans, em sua juventude, apaixonou-se e ficou noivo de Hendrika Spetter, uma judia. Contudo, ela e toda sua família - menos 1 irmão que estava viajando - foram mortos pelos nazistas em Auschwitz. Que horror!

    No capítulo da conversão, vemos que essa se dá durante os anos sombrios da Segunda Guerra. Como prisioneiro, ele lê vários livros, mas passa a pensar seriamente em ler a Bíblia. Lendo-a, entende que ela é a verdade de Deus sobre o homem. Logo escreve dois livros. Um sobre os profetas do AT e outro sobre estética e música. Mas é na amizade com um cristão mais velho e maduro que Rookmaaker se desenvolve e descobre Dooyeweerd. Quando Rookmaaker retorna, ao terminar da guerra, ele enche a cidade com panfletos na busca por sua amada. O que ele não sabia era que ela e sua família já estavam mortos.

    Que personagem fascinante! Um pecador, alguém que possuía muitas limitações como pai, mas que soube dar o seu melhor na educação de seus filhos. Todavia, o mais impressionante, Rookmaaker era um cristão apaixonado pela arte. Sua maior paixão era a música, especialmente blues, jazz e spirituals. Foi um pioneiro no estudo da arte moderna e especialista na arte dos séculos XVI e XVII também. Abriu um grupo de apoio aos alunos cristãos na Universidade. Apoiou o Labri de Francis Schaeffer. Investiu nos seus estudos da História da arte. Enfim, viu na sua carreira uma oportunidade de estudar a arte sob a ótica calvinista.

    O legado de Rookmaaker é mostrado no último capítulo: calvinismo e arte, um diálogo que ele traçou em sua vida. Uma curta vida: faleceu com 55 anos. O legado de Rookmaaker se expressa na rede de relacionamentos que ele cultivou. Mas há algumas características, organizadas pela autora, Laurel Gasque, que me chamaram atenção: 1) sua modéstia e falta de pretensão: seu desejo era servir à igreja e a Cristo; 2) seu amor pela vida total (música, artes, boa comida etc); 3) discernir os dons e talentos dos jovens e incentivá-los; 4) ser mentor dedicado; 5) um construtor de pontes entre a erudição e o trabalho dos artistas; 6) trabalhou arduamente para resgatar a arte para a fé cristã; 7) seu compromisso em pensar e viver como cristão no mundo. Um último ponto maravilhoso é a lista enorme de sites, que a autora oferece no final do livro, de pessoas e instituições que receberam a influência de Rookmaaker.

    Os dois capítulos essenciais para futuros estudos são os 3 últimos: “amizades”, “paixões” e “legado”.

    “A partir do momento em que se abriu plenamente para abraçar uma fé bíblica em Jesus Cristo, entrou em uma missão que o motivou até seu último suspiro. A luz derramada em sua vida pela verdadeira Luz do mundo iluminou sua visão e o imbuiu de um imenso chamado para ser plenamente humano em um mundo criado pelo Deus vivo, de acordo com sua rica realidade. Essencialmente, o objetivo de Rookmaaker era compartilhar essa plenitude de vida com os outros, não de uma forma redutora ou unilateral, mas de maneira que refletisse a complexidade e completude do amor de Deus que sustenta a criação” (p. 27).

                                                                                Fábio Ribas

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