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terça-feira, 30 de julho de 2024

Guerra contra as armas (XXXIII/2024)

 

O que assusta é ver que as falsas informações da imprensa não ocorrem apenas aqui. Se nos Estados Unidos ocorre o narrado neste livro, o que esperar, então, do Brasil? A sensação que fica é que estamos à mercê de um caos, pois a imprensa, a mídia, ela busca a venda da notícia e não a verdade da informação. Assim, irá para o público aquilo que for mais sensacional, de maior apelo emocional. Se formos a fundo, contudo, se quisermos ver o que de fato ocorreu, descobriremos que, tanto no Brasil como nos Estados Unidos (como em tantos outros lugares do planeta terra), o produto final que nos chega às mãos, aquilo que aparece na tela do nosso computador ou numa folha de papel, já foi maquiado, manipulado e não passa de um recorte da realidade. Todavia, de uma realidade já interpretada. Por exemplo, mesmo diante de tantos casos de pessoas armadas que salvaram vidas (o autor traz uma lista), a manipulação da imprensa continua, pois eu mesmo nunca vi uma reportagem sobre “armas que salvam”. 

Parece que o autor está falando sobre o Brasil, mas está falando sobre os Estados Unidos. As pesquisas e estatísticas, desde a coleta e organização dos dados, são manipuláveis. Você pega os fatos e os apresenta ou organiza, dando a maquiagem que te interessa. Se acontece isso lá, repito, o que esperar do Brasil?

O capítulo IV foi algo assim terrível quanto a mostrar como que estatísticas e ciência são manipuláveis. “Os números não mentem”, ouvimos dizer. “Contra fatos não há argumentos”, insistem. Porém, o que há são interesses pessoais, corporativistas e ideológicos. O “cientista” faz um recorte na realidade. Basta encerrar o levantamento de dados um ano antes e começar um ano depois e pronto! Todo o estudo servirá para provar o que ele queria que fosse provado. O autor conta sobre a escolha de um ano “X”, explicando que se tivéssemos olhado o ano anterior e os posteriores, o resultado da tal “pesquisa” mostraria outra realidade bem diversa daquela recortada. Por isso, quando o cientista não usa certos dados, ele tem que explicar a razão de ter feito isso. Assim como ele também deve explicar a razão de não ter usado os dados como chegaram a ele — na sua versão bruta. Se há recortes, é preciso que se explique o porquê.

Veja um exemplo. Imaginemos um Estado de um país. Os Estados em que há mais armas é onde ocorrem mais mortes de policiais, assim, qual a conclusão dessa “pesquisa”? Mais armas, mais mortes de policiais. Menos armas, menos mortes de policiais. Vou mostrar só duas incongruências desse tipo de lógica: 1) se vc restringir essas armas, vc estará desarmando o cidadão de bem, que protege a situação e a sua casa, além de auxiliar a polícia. Por quê? Os bandidos usam armas ilegais, não compradas sob a lei (óbvio), assim eles continuarão armados. 2) Mais armas, mais policiais mortos é um salto de conclusão absurdo, além dessas armas legais (e rastreáveis) não participarem do assassinato de policiais, não entram aqui outras duas variáveis, que são o número de suicídios e o fato de que os suicidas homens preferem armas de fogo, enquanto as suicidas mulheres, que, mesmo tendo posse de armas de fogo, preferem outros métodos de suicídio. Mas olhe como se apresentam as realidades: policial suicidou enforcada, aí não se leva em conta “esse detalhe”, apenas o fato de que ela tinha arma e morreu. Aí, colocam o caso na estatística. Isto é maquiar toda uma realidade! O número de homicídios tem que discernir entre assassinato, suicídio e homicídio. Sim! Como o autor bem mostrou, para que tivéssemos uma realidade mais adequada, é preciso que se mostre dentro desses “homicídios” o que foi assassinato, o que foi suicídio e o que foi legítima defesa! A questão é que pesquisas que não fazem tal discernimento geram resultados totalmente irreais. Alguém está pagando por essas pesquisas “mancas”! E pior — são essas as pesquisas que serão usadas para pressionarem congressistas na criação de leis! Título de um dos capítulo: adulterando pesquisas e forjando dados. Agora é a pá de cal. A tristeza de ver que isso ocorre nos Estados Unidos é imaginar o que, então, rola livre e solto no Brasil. Basta a escolha de um ano certo para fundamentar o que se queira, para que tudo tome a dimensão desejada pelos “formadores de opinião”. 

O óbvio: campanhas de desarmamento só desarmam os portadores de armas legais, os cidadãos de bem. Por isso, o número de homicídios não declina após um desarmamento. O óbvio: atiradores em massa só procuram lugares em que eles sabem que as pessoas são proibidas de portarem armas. A ironia: 60% dos assassinos em massa já tinham sido diagnosticados com problemas mentais antes dos massacres que praticaram.

Carros matam mais do que armas. Contudo, a comparação é problemática. 99,4% das mortes em carros em 2004 (EUA) foram acidentais. 1,8% de mortes com armas de fogo foram acidentais. 65% das mortes com armas de fogo foram suicídios. Mas o problema começa ser melhor interpretado quando sabemos que os casos de suicídios sem armas de fogo subiu 49% no período analisado. A taxa de suicídio no trânsito subiu 53%. Isto é, as pessoas estão se matando cada vez mais. Reflexão: normas cada vez mais rígidas na legislação não atingem os suicidas, sejam no trânsito, sejam por armas de fogo. Tudo isso só revela duas verdades: 1) campanhas de desarmamento têm um objetivo oculto, que não é a nossa segurança — governos querem desarmar seus cidadãos; 2) enquanto olham para as armas, ninguém trata do desastre humano do aumento de suicídios. Contra estes, não há lei. Apenas o Evangelho pode ir, então, ao cerne dos verdadeiros problemas humanos, escondidos sob o manto das ideologias e interesses financeiros mundiais.

                                    Fábio Ribas

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