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sexta-feira, 26 de julho de 2024

União com Cristo (XXXII/2024)


“Deus determinou nos chamar com santa [e eficaz] vocação conforme uma decisão que aconteceu “em Cristo Jesus” e “antes dos tempos eternos”. Essa decisão de Deus foi a decisão de derramar graça sobre os seus eleitos. Note que só é possível compreender esse versículo (2 Timóteo 1:8–9) se entendermos que, na eternidade, muito antes de nossa existência ou mesmo de qualquer previsão de boas obras de nossa parte, Deus decidiu dar graça aos seus eleitos, concebendo-os já em relação ao Senhor Jesus Cristo. ​
“No texto de Efésios (1:4–5 e 11), tanto a escolha que Deus fez de parte da humanidade para que fosse santa quanto à predestinação para pertencermos ao próprio Deus por adoção aconteceram “nele”, “por meio de Jesus Cristo” e “em Cristo”. Essa escolha aconteceu antes da fundação do mundo. Do ponto de vista lógico, portanto, fomos planejados por Deus em união com Cristo e, por isso mesmo, escolhidos e predestinados. Do ponto de vista da decisão de Deus, nossa união com Cristo aconteceu na eternidade. Deus nos considerou como alvos de sua graça porque nos viu na eternidade, no momento da sua escolha, unidos ao seu santo Filho. Campos (Héber Carlos de) fala sobre isso da seguinte forma: “Estar em Cristo é algo definido antes da fundação do mundo, no decreto de eleição. Antes de o universo ser chamado à existência, já estávamos em Cristo. Assim como Deus, o Pai, escolheu Cristo, na eternidade, para ser o Redentor dos filhos dos homens, assim também colocou esses homens nele, para que recebessem as bênçãos advindas daquilo que ele iria fazer por eles””.

A união com Cristo é a doutrina basilar da fé. Ela é a origem, o meio e o fim da nossa caminhada. Tudo o mais é enlaçado por esta doutrina. Somos unidos a Cristo pelo propósito do Pai, que assim quis antes da fundação do mundo, e por meio do Espírito Santo recebemos TUDO o que precisamos para nossa salvação e santificação. Esta é a grandeza do que nos traz o autor de “União com Cristo”, o Rev João Paulo Thomaz de Aquino.

Mas o que é a união com Cristo? Quais as implicações disso? Deus escolheu alguns para que fossem resgatados do estrago do pecado, que nos levou à condenação da separação. A união com Cristo é o que torna possível essa reaproximação. Com ela, recebemos tudo o que precisamos para crescermos em santidade e lutarmos contra o pecado. É uma união mística atestada pela Bíblia e tratada nas Confissões e Credos Reformados. Estamos unidos a Cristo e isso torna possível nossa união com a Igreja.

Assim, na primeira parte de seu livro, o autor nos faz uma apresentação bíblico-teológica da “união com Cristo”, trabalhando e aprofundando as metáforas que a própria Palavra de Deus fornece sobre essa doutrina: o casamento, o templo, a família, a videira e os ramos, escravos, corpo, banquete etc. Vemos, assim, como a Bíblia é rica em detalhar a natureza mística de nossa união com Cristo e, com isso, o autor nos esclarece e define o que é essa união.

Na segunda parte do livro, vemos uma apresentação mais teológica-sistemática, em que o autor nos fala das características dessa união e como que ela se opera (modus operandi), além de mostrar como a doutrina da união mítica de Cristo conosco se relaciona com todas as demais doutrinas basilares de nossa salvação e santificação. Nesta parte do livro, vemos, entre outros, os aspectos legal, espiritual, vital, orgânico, pessoal e missional da doutrina. Assim como no livro “Vivendo em União com Cristo”, de Grant Macaskill, Rev Thomaz de Aquino irá tratar da relação da doutrina com os sacramentos do batismo e da ceia, além de abordar muito equilibradamente o tema da imitação de Cristo. Aqui, portanto, esses dois autores dialogam para que possamos elaborar uma missiologia da habitação, relacional e mística. Ainda nesta parte, é assombroso quando somos lançados à verdade bíblica de que Deus jamais se relacionou com seu Povo à parte de Cristo. Para explicar melhor isso, o autor apresenta os conceitos da união objetiva, que é a perspectiva de Deus, e a união subjetiva, que é a nossa perspectiva. Dito isso, desde a eternidade, Deus só viu os seus eleitos por meio de Jesus. Deus sempre nos viu unidos ao seu Filho. A vinda de Jesus foi, portanto, para resgatar os seus eleitos para uma união subjetiva, histórica e individual por meio da Fé.

Na terceira parte de seu livro, o Rev Thomaz de Aquino demonstra como a doutrina da nossa união com Cristo está presente de forma central na teologia de João Calvino. Ainda neste ponto, teremos o confronto de Calvino e Osiandro explicado de modo muito claro ao leitor, para que possamos criticar os movimentos teológicos mais recentes como a Nova Perspectiva em Paulo e a Nova Escola Finlandesa de interpretação de Lutero. O autor termina com um último esclarecimento: seria a união mítica com Cristo a mesma coisa que a teose da teologia ortodoxa oriental?

                        Fábio Ribas

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