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quinta-feira, 5 de setembro de 2024

O comunista exposto (XXXVI/2024)


Ao terminar a leitura de “O comunista exposto”, de W. Cleon Skousen, Vide Editorial, senti-me muito mal. Senti-me esmagado por uma sensação muito ruim, não só porque o espírito que embalava o comunismo não morreu com a queda do Muro de Berlim e o fim da Cortina de Ferro, mas por constatar também que sua prática de falsa propaganda continua a mesma. Ainda que, nos últimos capítulos, o autor tenha roteirizado os passos que deveriam ser dados para que aquele sistema totalitário fosse impedido, ainda assim, o que lemos no livro é sobre um rolo compressor satânico. Mas, nessa história toda, há coisa pior, além da ignorância e estupidez de quem foi um idiota útil na sustentação dessa máquina assassina. Falarei sobre isso.

O livro possui 13 capítulos, além do prefácio, uma introdução e uma ótima conclusão para ser estudada em pequenos grupos, que são abordagens voltadas aos pais, jovens estudantes, professores e outros grupos. Há ainda uma seção sobre a trajetória de como se deu a construção do livro até sua primeira publicação. Na verdade, houve uma primeira edição privada, ainda em 1958. Depois, em 1961, sai uma nova edição em que se acrescenta “as 45 metas do comunismo”. A despeito do tempo decorrido dede suas primeiras publicações, em 2014, Dr. Ben Carson (cuja vida deu origem ao filme “Mãos talentosas”) declara que o livro parecia ter sido escrito ontem. De fato, a mentalidade e o espírito do comunismo estão presentes em nossa sociedade hoje. O sacrifício da lei e da ordem no cenário de nossas democracias é atualíssimo. Vivemos tempos sombrios e a nossa mídia afasta, cada vez mais, as pessoas da realidade, enquanto, concomitantemente, nosso cristianismo é novamente usado para condenar publicamente quem sequer ainda não teve amplo direito à defesa.

O livro tece sobre o surgimento do comunismo, seus fundadores e a atração que ele exerce nas pessoas. A biografia de Karl Marx é um escândalo, que, por si só, já deveria impedir de um cristão ter as palavras “cristianismo” e “marxismo” saindo da mesma boca. Os crimes desses personagens — Marx, Lênin, Trotsky, Stalin, Khrushchev, Fidel Castro, etc — estão todos relatados no livro: seus assassinatos, corrupções, mentiras e psicopatias transbordam das páginas que narram essas biografias. Todavia, nada disso foi a principal razão do meu mal estar ao terminar o livro, uma vez que não se poderia mesmo esperar nada de diferente do comunismo e suas falácias. O que causou-me tanto mal estar então? Vou citar as palavras do próprio autor ao iniciar o capítulo 12: “Neste estudo, não fizemos tentativa alguma de encobrir os erros cometidos pelos homens livres ao lidar com o comunismo no passado”. No momento em que eu li essas palavras, já era tarde demais. Eu já estava enojado com o “mundo livre” e sua cumplicidade e responsabilidade com o que foi o comunismo por toda face da terra. E não estamos falando de uma mera questão de gosto ou desejo de se identificar com um lado ou outro da política, estamos diante de uma máquina de extermínio que ceifou a vida de mais de 100 milhões de pessoas!

O comunismo não apenas é uma fraude filosófica, política e econômica, e o autor tratará de responder a cada uma das falácias marxistas nessas áreas, mas é uma engenharia desoladora, que cometeu o genocídio de milhões e milhões de pessoas inocentes! Ao ler o livro, portanto, vemos que, a cada passo dado por esse regime ditatorial, havia a omissão do chamado mundo livre. O livro não apenas expõe o comunista, mas também o homem livre que fecha seus olhos diante da realidade. Os erros cometidos pelo homem livre não se devem ao fato de não se conseguir adiantar e prever os movimentos do inimigo, mas à recusa de não dar ouvidos aos gritos insistentes dos inocentes. Houve incompetência sim! Não há dúvida. Houve incompetência e estupidez, mas houve coisa pior também por parte dos “homens livres”. Houve interesses escusos de se deixar sacrificar inocentes para se garantir uma estabilidade ou a manutenção de um status quo. Duas estratégias vitoriosas usadas pelo programa comunista foram o uso da falsa propaganda, fazendo com que, em muitos eventos no século XX, os comunistas fossem vistos como os democratas e libertadores da opressão, angariando com isso muitos simpatizantes e, como segunda estratégia, infiltrar espiões nos Governos, Diplomacias, Imprensa em geral e na classe artística, para que, na hora das grandes tomadas de decisão internacional, esses grupos fossem acionados para fazer com que as peças no tabuleiro se movessem a seu favor. Exemplo disso foi a União Soviética ter entrado na Organização das Nações Unidas, entidade criada para agregar os países amantes da liberdade. Não apenas a URSS entra na ONU, mas ela é membro fundador e ocupa a cadeira do Conselho Geral, ao lado dos Estados Unidos, França e Inglaterra. Esse Conselho toma decisões às quais os demais países são obrigados a acatar (obrigados numa organização criada para a liberdade?!). Não fosse isso suficiente, alguns anos mais tarde, depois de massacrar os nacionalistas chineses, que lutavam contra a comunização do seu país, assenta-se a República Popular da China nesse mesmo Conselho, representando mais um regime totalitário comunista na liderança da ONU. Assim, o autor vai mostrando como que os comunistas moveram a ONU para favorecê-los nas Guerras da China, Coréia e Indochina. Os diplomatas e a ONU chegaram a defender os ataques comunistas justificando que os vermelhos é que eram os libertadores democráticos, enquanto isso, os comunistas esmagavam os verdadeiros antifascistas.

Sob Khrushchev, a estratégia de dobrar os Estados Unidos e a ONU se fez ainda mais sagaz, ao ponto desse líder soviético ter feito uma visita à América e ao Presidente dos Estados Unidos, dando munição ao Partido Comunista naquele país! Da sua parte, Khrushchev conseguiu impedir que uma visita do Presidente americano fosse feita na URSS. E o pior, debaixo da mão de ferro de Khrushchev, se deu na revolução Húngara de 1956 um dos mais covardes atentados contra os direitos humanos. A situação da Hungria é uma das mais revoltantes, porque, mais uma vez, o chamado “mundo livre” fechou os olhos à destruição comunista ao país, enquanto o povo fazia apelos desesperados pelo rádio, sem entender como que os países capitalistas e livres deixavam os soviéticos, apoiados pela ONU, exterminarem o povo e tomarem de assalto o país. Entretanto, ainda como exemplo, o autor expõe toda ação da ONU, da Imprensa e da classe de artistas americanos que protegeu, divulgou, apoiou e levou ao poder um sanguinário psicopata como Fidel Castro ao poder! Em todos esses casos, quando esses líderes comunistas, uma vez no poder, instalavam suas ditaduras sanguinárias, o que se ouvia da parte da ONU, de diplomatas, da Imprensa e de artistas é que a ascensão desses líderes era algo “inevitável”! “Inevitável”?! Quanto asco me dá essa palavra, porque ela é a versão secular para “Deus quis assim”! E esse fatalismo de botequim, esse teologizismo de boteco, essa espiritualidade com falsas roupas de puritanismo, eu também tenho encontrado nestes anos todos de vida cristã. Um discurso religioso que coloca a responsabilidade de nossas ações na conta de uma soberania divina, que só é professada por esses quando o resultado de suas empreitadas se revela um enorme equívoco. É como se fosse a versão inversa do que nos ensinou Hannah Arendt — seria, então, uma “banalidade do bem”, em que essas pessoas abrem mão de julgar a si mesmas, colocando a responsabilidade moral de seus atos não mais no Estado, mas num deus culpado por levar as coisas ao ponto em que elas chegaram, a despeito dos crimes, erros e pecados individuais.

Portanto, todas essas coisas me fizeram muito mal durante a leitura desse livro. Elas me doeram a alma! Ainda que a Cortina de Ferro e o Muro de Berlim tenham ruído, mas das 45 metas comunistas para dominar os países livres, apenas uma delas não tinha sido ainda colocada em prática até 2014. Isso significa que o comunismo se reinventou e conseguiu avançar mundo afora, mesmo depois da queda da antiga URSS, vindo a se multiplicar e dominar a América Latina, por exemplo, pelo viés de eleições democráticas, como previa o próprio Karl Marx. Todas aquelas estratégias de domínio da imprensa, manipulação dos fatos, se vender como “democrático e livre”, como os “antifascistas” da história, tudo isso vemos ocorrer bem debaixo do nosso nariz, hoje em dia, no Brasil. A China foi perdida, a Coréia foi perdida, a Hungria e todos os demais países daquela época também. Ainda que a liberdade política tenha retornado a muitos desses lugares, o cativeiro marxista continua a enclausurar as mentes ao redor do mundo, pois é uma cosmovisão e não mais apenas um partido político ou um Governo. As estratégias continuam as mesmas: usar da propaganda de que os “fascistas” são os nacionalistas (que, na verdade, defendem seus países contra a desordem, a mentira e a corrupção dos comunistas), enquanto os "vermelhos" são vistos e defendidos pelas instituições difusoras de informação como “os heróis da liberdade”. 

            Fábio Ribas

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