Artigos

segunda-feira, 23 de outubro de 2023

Jesus foi o negro do mundo?

 

    Preconceito é algo que todo mundo sofre mais cedo ou mais tarde… e espero não estar sendo preconceituoso quando eu digo isso… Você sofre preconceito porque é bem casado ou porque é separado; porque é alto ou porque é baixo; porque é gordo ou porque é magro; porque é inteligente ou porque é obtuso. Cabe, portanto, duas saídas: a vitimização ou correr atrás para que você seja conceituado pelo mérito pessoal e não pelo grupo ao qual pensam que você participa. Preconceito é ser avaliado sob o estigma de um grupo ao que, se supõe, você pertença. Esta definição está no Houaiss.

    Em outras palavras, preconceito é julgar a parte pelo todo. A saída contra esse preconceito, que se mostra na avaliação de um indivíduo pelas características de um grupo, deve ser a reversão dessa coletividade pela sua individualidade. O preconceito pode se tornar uma oportunidade para mostrarmos que não somos o grupo no qual insistem em nos encaixotar. Somos mais do que a massa, mais do que o grupo, porque somos antes indivíduos dotados de uma personalidade e valor únicos para Deus.

    Perceba, se você é um gay, você quer ser respeitado pelas características do movimento gayzista de Luiz Mott ou pela pessoa que você é? Se você é um cristão, você quer ser respeitado pelas características de quais grupos? Católicos, evangélicos ou espíritas? Se você é um cidadão, um membro da sociedade que é identificado por números em série, você deseja ser essa massa? Deseja ser essa impessoalidade? Ou, para longe dos rótulos, associações e estereótipos, você quer ser respeitado pelo que você é? Se você é negro, o seu grupo hoje lhe oferece os benefícios das cotas, mas, amanhã, será você sozinho quem terá que provar que conquistou seu diploma por mérito e não por se esconder atrás de um discurso sobre dívida histórica. É como ser brasileiro em algum lugar do mundo: as pessoas vão pensar que você é samba, futebol e melancia até que os seus méritos pessoais mostrem quem você é de fato.

   Nós queremos pertencer a determinados grupos com os quais nos identificamos, o que é natural. Contudo, o problema é quando o grupo passa a alimentar-se de nós, exigindo que carreguemos uma bandeira que suprime ou vai contra a nossa individualidade. É a cultura da massa contra a liberdade do indivíduo. Então é responsabilidade sua não sucumbir ao meio e ao outro, mas se superar.

    Ser cristão, hoje, cristão de verdade, bíblico, que se agarra ao testemunho do tempo, é o mesmo que ser um nazista ou um membro da Ku Klux Klan. Você será acusado de homofóbico, sem sombra de dúvida. Dirão que você é um serzinho medíocre que não merece o mínimo de respeito. Dirão que é um fundamentalista e nem te chamarão para as rodas de conversa, porque todos já sabem, de antemão, o que você pensa, o que vai dizer e o que crê. Não interessa quem você é, o que importa é que eles já julgaram quem você seja. Portanto, você é o pobre do mundo.

    Ser calvinista, por exemplo, é o mesmo que ser um revolucionário do Partido de Mao Tsé-Tung. Você será um totalitário de mente dominadora e tacanha. Um serzinho vesgo e pequenino como algum desses personagens das histórias fantásticas do C.S. Lewis ou do Tolkien. Dirão que você é intransigente, puritano, hipócrita, dono da verdade, opressor das massas, ditador e seguidor do assassino de Serveto! Não interessa quem você é, o que importa é que eles já julgaram quem você seja. Portanto, você é a mulher do mundo.

    Agora estão dizendo que a minha denominação eclesiástica aceita a ordenação de pastores gays, só porque os americanos e escoceses daquelas denominações estão aceitando a ordenação de pastores homossexuais. A minha igreja não tem nada com isso. Uma coisa é uma coisa e a outra coisa é outra coisa, mas vai tentar explicar isso! Outra: sempre digo que o que mais me marcou na minha pública profissão de fé, quando fui recebido na minha igreja, foi a promessa que fazem todos os que se congregam a ela: "Prometo ser-lhe fiel, enquanto a liderança da igreja for fiel às Sagradas Escrituras". Assim, livro-me da subserviência ao grupo, caso eu entenda que este discorda da Palavra que eu sigo… Mas, ainda assim, não interessa quem você é, o que importa é que eles tomam o modo subjuntivo pelo indicativo. Em outras palavras, julgam você por aquilo que você seja como se fosse isso o que você é. Portanto, você é o escravo do mundo.

    Eu tinha uma amiga gay (tempos pregressos), que me levava para a casa e dizia à família dela que eu era seu namorado (só para manter as aparências). Até que uma amiga "entendida" foi visitá-la e ela fez a besteira de estender a brincadeira: "Você ainda não conhece meu namorado, não é? Aqui está. Deixa eu te apresentar"… A amiga gay dela ficou pálida na nossa frente, mas, na hora, não disse nada. Sentamos para assistir TV, nós no chão e a amiga ao nosso lado no sofá. Dali a pouco, a amiga não suportou mais e explodiu num acesso de ira: "Você está louca? O que as meninas vão dizer?", disse ela rosnando. "Você não pode namorar um homem. Você é gay! Você está louca"… A discussão entre as duas saiu do controle até o ponto de eu ter que ir embora e deixar o barraco quebrando atrás de mim. Então, veja, eis um exemplo do poder coercivo do grupo sobre o indivíduo: "Você é gay"!

    Cuidado: o grupo irá anular quem você é, caso a sobrevivência dele esteja em jogo. Grupos tendem a não permitir que você seja quem você é, caso isso signifique algum dano a eles. Sempre foi assim e sempre será. E é disso que a sua individualidade precisa se resguardar: a usurpação da liberdade é a realidade totalitária oculta sob o manto da democracia das minorias.

    Jesus foi o negro do mundo? Ele é o melhor exemplo de tudo o que estou dizendo aqui. Jesus sempre foi avaliado pelo grupo, ao qual insistiam que ele se identificasse: filho, nazareno, galileu, judeu, homem, profeta, rei, messias populista, milagreiro, essênio, gay, marido de Maria Madalena, etc. Tentam resumir ou reinterpretar Sua pessoa por todos estes séculos, segundo cada um desses grupos, contudo Jesus não era nenhum deles no final das contas. Jesus não era, porque sempre fora, desde a eternidade, o Filho unigênito do Pai, a segunda Pessoa da Trindade. O fato de Jesus ter se identificado, por Sua livre vontade no mistério da encarnação, com um ou outro grupo não anulou a Sua individualidade.

    Mas e você, quem você é? Eu queria dizer algo maravilhoso que eu descobri para a minha própria vida. Antes de pertencer a qualquer grupo, seja a família, seja a igreja, um partido político, ao cristianismo, antes de qualquer um desses grupos, eu já pertencia ao Pai. Desde a eternidade, antes mesmo de nascer, Deus já havia me planejado. Assim, a minha identidade, a verdadeira identidade, está guardada em Deus. Quem eu sou é um tesouro escondido no coração de Deus. Volte-se a Ele e descubra essa verdade em Cristo, porque a liberdade que conquistamos em Jesus é um bem inegociável.

    PS - Enfim, escrevi este artigo tendo esta música de John Lennon martelando em minha cabeça por todo o texto: "Woman is the nigger of the world". Uma música pró-feminista e que causou polêmica na época por causa do "nigger" da letra. Aliás, a letra é da Yoko Ono. Uma letra contra o preconceito, mas que foi acusada de ser uma música preconceituosa (pensamento enviesado típico de quem permite que "grupos" pensem em seu lugar). Ótima música!

Fábio Ribas

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Quem és tu que me lês? És o meu segredo ou sou eu o teu? Clarice Lispector.

Nos passos de Hannah Arendt (XLI/2024)

  Nestes últimos anos, além de vários artigos e ensaios, tive a oportunidade de ler “Eichmann em Jerusalém”, “Homens em tempos sombrios”, “O...