Artigos

segunda-feira, 8 de abril de 2024

Símbolo - uma palavra "overloaded"

 


“Uma palavra ou uma imagem é simbólica quando representa algo mais que o seu significado imediato e óbvio. Tem um aspecto ‘inconsciente’ que nunca será definido com precisão ou completamente explicado...”
C. Jung

Em Semiótica, há muitas palavras que são “overloaded”. São palavras carregadas de significados e usadas nas mais diversas situações. E isso dificulta muito iniciar o estudo na área, pois, dependendo do autor e das escolas, palavras e expressões como “signo”, “signo linguístico”, “ícone”, “índice”, “símbolo”, “sinais” e afins precisam ser estudadas no contexto da obra em que se encontram. 

A simples palavra “signo” em Peirce, Morris, Schaff, Cassirer, Wittgenstein, Gadamer e Umberto Eco assume conteúdos diferentes para cada um deles. Se isso já não fosse suficiente para causar certa confusão, o inverso também ocorre: há conteúdos semelhantes, mas que recebem nomenclatura diversa em cada um desses autores! E o que dizer de palavras que mudam de conteúdo no correr da vida de um mesmo autor? Não é surpresa, portanto, termos coisas como “o 1º Kierkegaard, o 2º Kierkegaard” ou “Chomsky da 1ª fase, o da 2ª fase, etc” e assim por diante. Isso tudo sem esquecer que uma mesma nomenclatura recebe conteúdos diversos e até significados opostos no correr da história!

         Assim, neste texto, quero chamar sua atenção para a necessidade de obras de referência e dicionários especializados. Quais eu mais uso? Por enquanto, até essa fase da nossa Bibliotheca, uso muito os dicionários de Filosofia do Ferrato Moura e do Abbagnanoo ótimo dicionário eletrônico Houaiss, além do dicionário de linguística da Editora Cultrix e o vasto dicionário de semiótica do Greimas e Courtés. Acredito que estas obras são um material mínimo para se ter à mão.

         Aproveitando essa perspectiva, gostaria de tomar como estudo de caso a nomenclatura "símbolo" para, além do que já vimos até aqui, agregar novas informações também.

         Comecemos pelo Houaiss (você pode clicar sobre a imagem para aumentá-la):

         Como podemos ver, o dicionário consegue trazer à tona 7 acepções diferentes. Todavia, se observarmos com atenção, perceberemos uma característica comum às acepções ali expostas: todas são arbitrárias. Podemos, ao menos, tirar uma conclusão, que, segundo o dicionário Houaiss, o símbolo é arbitrário, é uma convenção, um acordo estabelecido dentro de algum ambiente. Este pode ser social, político, acadêmico ou cultural, por exemplo.

         Vamos retornar ao que havia escrito logo no início e vejamos alguns outros conteúdos para esta palavra “símbolo”. Para Morris, símbolo é “um signo produzido por seu intérprete e que age como substituto de outro signo”; para Schaff, “são objetos materiais que representam noções abstratas”; para Saussure, o símbolo “nunca é completamente arbitrário. Há um rudimento de vínculo natural entre significante e significado”; para Cassirer, “os símbolos pertencem ao mundo humano de sentido” (lembremo-nos de sua tese de que o homem é um animal simbólico); para Wittgenstein, “para reconhecer o símbolo no signo é necessário considerar seu uso significativo”; para Gadamer, “a essência do símbolo é substituir ou estar no lugar de outra coisa”. Cabe salientar que, para Peirce, Morris, Schaff e Wittgenstein, os símbolos são subunidades do signo, enquanto que, para Saussure, Gadamer e Cassirer, os símbolos se opõem aos signos. Com este parágrafo, compreendemos bem a observação de Peirce: “... a palavra símbolo já tem tantos significados que seria uma ofensa adicionar-lhe mais um...”.

         Então, para compreendermos o universo do símbolo, alguns outros conceitos precisam ser abordados daqui para frente: signo e sentido, por exemplo (além dos conceitos filosóficos de “forma”, “substância” e “matéria”, aos quais já havia me referido em textos anteriores).

         Outro importante ponto que o Houaiss explicita é o de que, ao tratarmos do símbolo, devemos compreender que esse se utiliza da alegoria, da metáfora, da metonímia, da parábola, da hipérbole, etc. Todos esses conceitos deverão ser tratados aqui em nossa biblioteca, caso queiramos realmente compreender a natureza do símbolo.

         É por causa do símbolo que nossa biblioteca procura ter uma vastidão enciclopédica, pois o símbolo está presente na cultura, na religião, na história das civilizações, na linguística, na antropologia cultural, na arte, na psicologia, etc.

         Esta sensibilidade quanto à natureza imaginativa do símbolo é fundamental para todo aquele que deseja compreender o outro, comunicar-se bem e se contextualizar no universo ao qual se pretende pregar o Evangelho. É uma viagem que, se Deus quiser, estamos apenas começando.       

Fábio Ribas

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Quem és tu que me lês? És o meu segredo ou sou eu o teu? Clarice Lispector.

Nos passos de Hannah Arendt (XLI/2024)

  Nestes últimos anos, além de vários artigos e ensaios, tive a oportunidade de ler “Eichmann em Jerusalém”, “Homens em tempos sombrios”, “O...