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sábado, 3 de fevereiro de 2024

A arte e a Bíblia (VI/2024)

 


    Nenhuma obra de arte é mais importante que a própria vida do cristão e todo cristão deve se preocupar em ser um artista nesse sentido. Ele pode não ter o dom da escrita, nem da composição ou do canto, mas toda pessoa tem o dom da criatividade no que diz respeito à forma como vive a sua vida. Nesse sentido, a vida do cristão deve ser uma obra de arte. A vida do cristão deve ser algo verdadeiro e belo em meio a um mundo perdido e desesperado — Francis Schaeffer

    Já havia dado ao curso de Comunicação Intercultural, que ofereço à formação de missionários, uma abordagem pelo viés da arte. Ler agora Schaeffer e Rookmaaker tem sido, então, uma experiência prazerosa para uma reflexão mais bíblica e teológica sobre a Arte e a Missão. Deixarei aqui um artigo que escrevi há muitos anos (“Por que devemos comer com os pecadores?”) e que sempre passo aos alunos para uma introdução à conversa.

    O nosso Deus é o Deus da beleza. Achei Francis Schaeffer mais flexível do que Rookmaaker no trato com o que seja a obra de arte. Na verdade, Schaeffer não discuti o conceito de obra de arte (nem Rookmaaker aqui), mas apresenta a base bíblica que deve levar a Igreja a se envolver com a arte. Schaeffer já trabalha com o conceito de cosmovisão. Rookmaaker afirma que a arte revela uma mentalidade. Assim, ambos trazem este acordo: se a igreja quer evangelizar a sua geração, ela não deve abrir mão da leitura dessa arte produzida e nem os artistas cristãos devem negligenciar que sua arte oferece ao mundo uma visão.

    A nossa arte precisa não ser meramente evangelística (como já afirmara Rookmaaker), mas deve ser cristocêntrica e teorreferente. O Senhorio de Cristo deve abranger o homem como um todo. Assim, por que deixaríamos a arte de fora?

    A partir de 4 premissas bíblicas, Schaeffer nos oferece um caminho para nos envolvermos com as artes: 1) Deus fez o homem todo; 2) Em Cristo o homem todo é redimido; 3) Cristo é Senhor do homem todo agora e Senhor da vida cristã toda; 4) No futuro, quando Cristo retornar, o corpo será ressuscitado dentre os mortos e o homem todo terá uma redenção completa. Esta última premissa clareia o fato de que não há área humana que não esteja contaminada pelo pecado, inclusive as artes. Devemos tratar essa questão sem romantismo e ingenuidade. Há limites. Contudo, em Cristo, há imensas possibilidades.

    “Adorar a arte é um erro; produzi-la, não”! Schaeffer mostrará a arte na Bíblia, desde o AT (o Tabernáculo, o Templo e o trono de Salomão são exemplos) até o NT. Gostei demais do fato que devemos fazer nossa arte diante de Deus (Coram Deo), pois ainda que os homens não a vejam, Deus vê. O autor irá tratar da música, da poesia, do teatro, dança etc. O que eu mais gostei, contudo, é que a arte entrará no Céu.

    Na segunda parte do livro, Schaeffer tratará das 11 perspectivas com as quais o cristão deve se relacionar, abordar e julgar a obra de arte. “…tendo sido feitos à imagem do Criador, somos chamados à criatividade” (p. 46). Schaeffer fornece 4 padrões de julgamento, que, eu acredito, precisamos estar atentos ao nos aproximarmos da arte: 1) excelência técnica; 2) validade; 3) cosmovisão; e 4) integração entre o conteúdo e o veículo (p. 53). Eu quero também avançar mais nessa ideia sobre a pregação (p.54 e 62). IMPORTANTÍSSIMO: “…podem ser feitas afirmações proposicionais em prosa, pode haver afirmações proposicionais em poesia, pintura e praticamente todo tipo de forma artística” (p. 61).”

            Fábio Ribas

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