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segunda-feira, 1 de abril de 2024

Uma breve e pública confissão da minha fé*


                          Photo by Karen Dobberstein on Unsplash

Eu creio em Deus! Creio que Ele é o Criador de todas as coisas que há, tanto no céu como na terra.

A Beleza, a Justiça e a Verdade têm a causa e a manutenção em Deus. Creio, portanto, que toda poesia, toda vida e toda morte estão debaixo da Majestade Divina e que nada está fora de Seu controle e de Seu planejamento. Nada!

Eu acredito na Beleza! E só acredito nela, porque há um Deus que concebeu a prosa e o verso, o amor e o carinho. Os tons, as matizes, a multiforme sabedoria, que se encontram entre os mais diversos homens só são assim, porque tudo foi arquitetado pelo Deus que, um dia, os gerou num ato de extrema glória!

Eu acredito na Justiça! Jamais na justiça dos homens, que são incapazes de realizá-la satisfatoriamente, porque somos por demais fugazes e corrompidos em nossos juízos, valores e entendimentos. Todavia, porque há a Justiça Divina, creio que algo dela nos foi compartilhado e permitido. São lampejos, flashes, efemeridades da Graça que, eu sei, podem facilmente nos escapar entre os dedos, mas já são suficientes para fazer de cada um de nós seres que anseiam por justiça.

Eu acredito na Verdade! Esta só é possível se houver um Deus que seja a própria Verdade, porque os homens, os homens todos, somos mentirosos. E se somos todos inimigos da Beleza, da Justiça e da Verdade é, tão somente, porque o cego que busca avidamente a luz também se afasta naturalmente dela, por causa do temor de ser consumido pelo calor de suas chamas!

Eu também creio no Mal e no pecado de todos nós, por isso sei da mácula, da distorção e da depravação que os homens cometem, mesmo tendo em suas mãos os mais sublimes presentes doados por Deus! Como crianças ansiosas e egoístas que rasgam os embrulhos e depois destroem até seus melhores brinquedos ou deles se cansam, assim somos nós. Então, há também a Prudência (sem a qual muitos já se teriam perdido nesse caminho)!

Enfim, creio que há em cada cultura humana algo da Beleza, da Justiça e da Verdade. Há no Cristianismo, porém, um legado maior; há na Tradição judaico-cristã um instrumento mais sensível para que o ourives zeloso — o homem nobre — trabalhe com maior maestria o que Deus tem oferecido à humanidade nas esferas da política, economia, educação e outras.

Noto, contudo, que nada do que foi declarado aqui versa sobre a salvação do homem, nada do que foi exposto nesta breve profissão de fé proclama a reconciliação necessária do homem com Deus. Isto por crer também que quaisquer culturas e tradições jamais serão suficientes para retornar o homem ao trono da Majestade Divina (nenhuma, nem mesmo a cultura judaico-cristã). Há uma cultura ainda mais singular sobre as demais, a Cultura do Reino de Deus, um presente entregue pelo próprio Autor do texto, no qual todos estamos há muito escritos. Essa Cultura singular se revela nas Sagradas Escrituras.

Arte alguma redimirá o homem, e este só poderá ser redimido quando confrontado pela Aliança! Nunca houve noutra cultura a Revelação de um Deus que entrasse em Aliança com um povo, que estabelecesse um vínculo de morte e vida, um vínculo de sangue. E a Aliança, que tem por testemunha a tradição judaico-cristã fundada à luz das Escrituras, é o único caminho possível para que possamos nos reconciliar com Deus — o pacto feito definitivamente no sangue da nova e eterna Aliança em Cristo Jesus!

Todavia, sei que muitos de nós somos ainda como o cisne velho da bela música de Saint-Saëns, um cisne velho que reluta contra a morte de si mesmo, porque ama exatamente aquilo para o que deveria morrer. O cisne que se debate contra a velhice e o anúncio da inexorabilidade da morte, mas só contende (inutilmente) por não acreditar que, nessa Aliança, a morte é uma gloriosa porta de entrada e não de saída.

                    Fábio Ribas

*Escrito originalmente em 2012 e publicado no blog “O Seringueiro”, em 08 de setembro daquele ano.

https://www.youtube.com/watch?v=Wpk7Kx4dt-U

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