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sábado, 14 de setembro de 2024

Noites Brancas (XXXVIII/2024)


Na ordem cronológica dos romances de Dostoiévski, este é seu quarto livro. Embora haja em pelo menos seus outros dois livros, “Gente Pobre” e “A Senhoria”, uma relação amorosa entre personagens, neste, “Noites Brancas”, é sua narrativa mais romântica. Ambientado, mais uma vez, em São Petersburgo, o título refere-se ao fenômeno de que, em algumas noites do ano, o sol não se põe completamente. Assim, é como se fosse um entardecer por toda noite, esta é a noite branca. O sol está lá em plena noite. Será que é esta a metáfora? Nosso personagem principal estava onde não deveria estar? Nosso personagem principal também não revela seu nome. Ele começa o livro tão feliz, radiante, cantarolando de tanta felicidade, mas essa felicidade não fecha seu ciclo.

A personagem principal é Nástienka. Assim, Nastassía apresenta-se a ele, usando um apelido, um diminutivo de seu nome que só deveria ser usado por pessoas muito íntimas. Isso revela como serão tempestuosas, apaixonadas e íntimas as quatro noites brancas em que os nossos dois personagens principais irão se encontrar. Mas, como eu disse, o ciclo não se fecha. Tenho certeza que o leitor antecede, suspeita, do que irá ocorrer no fim do livro. Um livro que tem um subtítulo revelador: “Das recordações de um sonhador”. Mais um personagem recluso, sem traquejo social, sem saber lidar com pessoas, sem maturidade relacional. Ordínov, de “A Senhoria” também era assim. Golyádkin, de “O Duplo”, também. Semelhantemente, Makar, de “Gente Pobre”, também apresenta dificuldade em relações interpessoais. São personagens sonhadores, mas que não conseguem realizar seus desejos no mundo real. Eles estão deslocados, inseguros e, com isso, frustram-se diante dos revezes que a vida oferece esmagando seus sonhos. Outra questão nestes livros, até aqui, que tem chamado a minha atenção é a diferença de idade nos personagens. Em “Noites Brancas”, ele tem 26 e ela 17. Em “Gente Pobre”, a diferença salta para 20 anos entre os personagens principais.

Se eu gostei de “Noites Brancas”? Muito! A vida é o que se apresenta. Não há o que fazer, muitas vezes. Não inocentes e nem culpados. Acredito que Dostoiévski escreveu uma história cuja metáfora seja o fenômeno da “Noite Branca”: o sol está lá e ponto! Ele não se põe e nem volta atrás. O sol está onde não deveria estar. Assim como nosso personagem sem nome, ele talvez não devesse estar naquela ponte quando conheceu Nástienka. Ela esperava por outro e não por ele. Ela sequer pergunta qual o nome dele…

                    Fábio Ribas

quarta-feira, 11 de setembro de 2024

O caminho da servidão (XXXVII/2024)


“O que sempre fez do estado um verdadeiro inferno foram justamente as tentativas de torná-lo um paraíso”. — F. Hoelderlin

Quando cedemos a que o estado planejador defina nossas decisões na área da economia, estamos dando a ele o espaço para que coloque tudo debaixo de uma planificação nacional coletivista. Se você perde a liberdade de escolha acerca do que comprar, como e onde, deixando que o estado decida o que é melhor para o “social”, ele vai decidir cada vez mais e eu e você cada vez menos. Não queremos dinheiro como um fim em si mesmo, mas queremos dinheiro PARA alguma coisa. “Para alguma coisa” é a nossa decisão e o estado jamais deveria intervir sobre isso.

Precisamos, de fato, salvaguardar a liberdade individual e também entender que a democracia não é um fim em si mesma. A democracia não é a prova de que, enquanto ela existe, estaríamos protegidos da ditadura. O que nos protege da ditadura são limites de poder. Até em democracias podemos viver sob a opressão de regimes ditatoriais. E nada mais certo do que isso, quando vemos o que estamos vivendo atualmente na história do Brasil. Quem limita o poder do judiciário? Nas palavras de Rui Barbosa, “a pior ditadura é a ditadura do Poder Judiciário. Contra ela, não há a quem recorrer”.

O socialismo é o caminho da servidão, esta é a tese principal de Hayek em seu livro. Portanto, o que o autor nos mostra é que você não é feito escravo da noite para o dia. Há um caminho por que nós somos, passo a passo, levados ao abismo. Isto é o que se deu com a Itália, a Alemanha e a Rússia. O caminho não se dá politicamente, a princípio. É pela via econômica que o Estado vai conseguindo poderes cada vez mais invasivos na vida do cidadão comum, até que ele se imponha totalitariamente.

Enquanto lia o livro, eu tentava imaginar o que foi para ele ver, com a criação da ONU, Stalin sentar à mesa com os países livres. A presença de Stalin e, nos anos que se seguiram, dos demais dirigentes russos da antiga União da República Socialista Soviética foi a bancarrota do mundo livre e a condenação de vários países mundo afora. O uso da ONU para afundar a Coreia do Norte, a China, Cuba e tantos outros está muito bem documentado no livro “O comunista exposto”, de Cleon Skousen (veja aqui).

A fraternidade essencial e fundamental entre o marxismo, o nazismo e o fascismo está totalmente comprovada. As ideias socialistas estão carregando todos estes grupos para a formação de um Estado Totalitário. A Alemanha de Goethe e Humboldt sucumbiu às ideias socialistas e isso a levou ao regime totalitarista do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães. Mais um livro que eu leio no sentimento da raiva, por ver que tudo o que poderíamos ter evitado nos últimos 30 anos estava escrito ali, desde 1943. Ninguém leu Hayek aqui na terra brasilis?

Como que o totalitarismo chega ao poder por meio das ideias socialistas explica a tomada do poder por Hitler na Alemanha, pelo Duce na Itália, por Stalin na Rússia. Este mesmo engodo brasileiro que durante décadas nos enganou entre uma “direita”, o PSDB, que se digladiava com uma “esquerda”, o PT; ambos, contudo, farinhas do mesmo saco comunista. Ninguém havia lido Hayek no Brasil, para que, então, pudesse nos alertar? 

A suprema tragédia, ainda não percebida, está em que, na Alemanha, foram em grande parte pessoas de boa vontade, homens que eram admirados e tidos como exemplos nos países democráticos, os que prepararam o caminho para as forças que agora representam tudo o que detestam — se é que eles mesmos não as criaram.

O livro de Hayek é muito bem escrito, claro e repleto de argumentos e fatos. Hayek ganhou o Prêmio Nobel de Economia em 1974. Para Rothbard, isto foi uma surpresa, pois, segundo suas palavras:

“Não apenas porque todos os Prêmios Nobel anteriores em economia tenham ido para progressistas à esquerda e opositores do livre mercado, mas, também, porque eles foram uniformemente concedidos para economistas que têm transformado a disciplina em uma suposta “ciência” preenchida por um jargão matemático e “modelos” irrealistas que são então utilizados para criticar o sistema de livre empreendedorismo e tentar planejar a economia através de um governo central” (em “Hayek e o Prêmio Nobel”)”.

Quando nos vemos trilhando o caminho da servidão, para Hayek, é que teríamos esquecido o verdadeiro caminho, mas qual seria o caminho esquecido? Seria o caminho do individualismo? O do capitalismo? Não, para Hayek, o caminho esquecido e abandonado é o caminho que fez o enriquecimento da Civilização Ocidental. Mas o que nos fez enriquecer? O livre-comércio? Não! Foi a nossa ética, a nossa moral individual defendida de forma cristalizada na primeira emenda da Constituição Americana. A ironia, para mim, é que a maior defensora e até mesmo responsável pelo desenvolvimento da ética individual no mundo Ocidental é a Igreja Cristã, todavia, é a partir dela que mais temos visto uma oposição ao individualismo. A igreja cristã foi fartamente usada e abusada para defender e expandir as ideias socialistas em várias partes do mundo. Se o real problema do homem não é nada que venha de fora, mas está no seu coração, isto já deveria ser suficiente para vermos o individualismo e o coletivismo dentro de esferas mais justas. A verdade, porém, é que a mentalidade revolucionária é criativa e fortemente adaptativa (para saber mais sobre isso, leia aqui).

O Estado planejador opta sempre pelo utilitarismo em detrimento da ética. Em outras palavras, o Estado sacrificará os direitos humanos alegando que está agindo pelo bem comum. Mas a pergunta que eu tenho martelando na minha cabeça é: de onde vem as pessoas que compõem o estado? Um dos capítulos do livro tem como título a seguinte pergunta: “Por que os piores chegam ao poder?”. Acredito que há uma pá de gente mal-intencionada, com sede de poder, mas poder para controlar a vida alheia. Há muita gente assim no meio privado, que sacrificam a ética individual, assassinam a reputação de quem não come na tigela que eles servem e que destroem quem se coloca como pedra de tropeço aos seus planos imperialistas. Essas pessoas não estão apenas trabalhando para/no Governo, mas podem estar se beneficiando dele em alianças espúrias e duvidosas. Essas pessoas estão também na iniciativa privada, nas escolas, nas associações, nos condomínios, nas igrejas! Agora, se ocorresse, de fato, uma livre concorrência, essas pessoas seriam limitadas pelas regras do mercado ou, cedo ou tarde, até expurgadas de onde se encontram. O mesmo não ocorre no estado. E a história recente do Brasil é uma prova do que estou escrevendo. Por isso que essas pessoas correm para exercer o que elas são no estado, mas debaixo da proteção da estabilidade de concursos públicos. De modo algum, estou dizendo que no estado só há os piores, longe disso. Há também os de boa índole e também os alienados, que são aqueles que não se dão conta que trabalham para perpetuar um leviatã que nos consome a todos.

Quem não se lembra do “fiscal do Sarney”? O governo congelou os preços e motivou as donas de casa a irem fiscalizar os estabelecimentos. Assim, o que a história recente nos ensina é que é preciso apenas uma justificativa palatável. Quem nos fez fiscais do nosso próximo? Qual a ética e a moral que me permitem intervir no empreendimento alheio? Não há ética onde existe coletivismo. Ou você garante os direitos humanos ou você impõe um estado planejador. As duas coisas ao mesmo tempo é uma grande utopia. Essa grande utopia veio para o Brasil sob a roupagem do PSDB — o partido dessa falácia chamada “social democracia”.

O que mais assusta (ou desanima) na leitura do livro é que estava tudo lá desde a década de 1940 e, mesmo assim, caminhamos a passos largos nesse caminho da servidão até chegarmos na situação crítica em que nos encontramos hoje. Assim, se definirmos “Estado de Direito” como a existência de leis que ajam de maneira igual sobre todos igualmente e que não haja ninguém que seja beneficiado por essa lei — a lei é para ser aplicada por uma justiça cega sobre todos, concluiremos, horrorizados, que não há um Estado de Direito no Brasil! Conta a mitologia que Plutão, o deus das riquezas, fora privado da visão por Júpiter e, manipulado por intrigantes que se aproveitavam de sua cegueira, Plutão concedia riquezas a quem não era merecedor de tê-las…

Esta história fez-me pensar na Justiça, que cega, deveria usar sua espada imparcialmente sobre ricos e pobres, mulheres e homens, independente da raça, cor e credo. Todavia, como no Brasil, tudo se inverte, não estaria nossa justiça também em mãos de intrigantes e, à semelhança de Plutão, não estaria ela concedendo seus tão caros benefícios a quem indubitavelmente não merece, corrompendo a razão original de sua cegueira? É o fim da verdade. O estado planejador terá como objetivo, para sua própria sobrevivência, o fim da verdade. 

                Fábio Ribas

quinta-feira, 5 de setembro de 2024

O comunista exposto (XXXVI/2024)


Ao terminar a leitura de “O comunista exposto”, de W. Cleon Skousen, Vide Editorial, senti-me muito mal. Senti-me esmagado por uma sensação muito ruim, não só porque o espírito que embalava o comunismo não morreu com a queda do Muro de Berlim e o fim da Cortina de Ferro, mas por constatar também que sua prática de falsa propaganda continua a mesma. Ainda que, nos últimos capítulos, o autor tenha roteirizado os passos que deveriam ser dados para que aquele sistema totalitário fosse impedido, ainda assim, o que lemos no livro é sobre um rolo compressor satânico. Mas, nessa história toda, há coisa pior, além da ignorância e estupidez de quem foi um idiota útil na sustentação dessa máquina assassina. Falarei sobre isso.

O livro possui 13 capítulos, além do prefácio, uma introdução e uma ótima conclusão para ser estudada em pequenos grupos, que são abordagens voltadas aos pais, jovens estudantes, professores e outros grupos. Há ainda uma seção sobre a trajetória de como se deu a construção do livro até sua primeira publicação. Na verdade, houve uma primeira edição privada, ainda em 1958. Depois, em 1961, sai uma nova edição em que se acrescenta “as 45 metas do comunismo”. A despeito do tempo decorrido dede suas primeiras publicações, em 2014, Dr. Ben Carson (cuja vida deu origem ao filme “Mãos talentosas”) declara que o livro parecia ter sido escrito ontem. De fato, a mentalidade e o espírito do comunismo estão presentes em nossa sociedade hoje. O sacrifício da lei e da ordem no cenário de nossas democracias é atualíssimo. Vivemos tempos sombrios e a nossa mídia afasta, cada vez mais, as pessoas da realidade, enquanto, concomitantemente, nosso cristianismo é novamente usado para condenar publicamente quem sequer ainda não teve amplo direito à defesa.

O livro tece sobre o surgimento do comunismo, seus fundadores e a atração que ele exerce nas pessoas. A biografia de Karl Marx é um escândalo, que, por si só, já deveria impedir de um cristão ter as palavras “cristianismo” e “marxismo” saindo da mesma boca. Os crimes desses personagens — Marx, Lênin, Trotsky, Stalin, Khrushchev, Fidel Castro, etc — estão todos relatados no livro: seus assassinatos, corrupções, mentiras e psicopatias transbordam das páginas que narram essas biografias. Todavia, nada disso foi a principal razão do meu mal estar ao terminar o livro, uma vez que não se poderia mesmo esperar nada de diferente do comunismo e suas falácias. O que causou-me tanto mal estar então? Vou citar as palavras do próprio autor ao iniciar o capítulo 12: “Neste estudo, não fizemos tentativa alguma de encobrir os erros cometidos pelos homens livres ao lidar com o comunismo no passado”. No momento em que eu li essas palavras, já era tarde demais. Eu já estava enojado com o “mundo livre” e sua cumplicidade e responsabilidade com o que foi o comunismo por toda face da terra. E não estamos falando de uma mera questão de gosto ou desejo de se identificar com um lado ou outro da política, estamos diante de uma máquina de extermínio que ceifou a vida de mais de 100 milhões de pessoas!

O comunismo não apenas é uma fraude filosófica, política e econômica, e o autor tratará de responder a cada uma das falácias marxistas nessas áreas, mas é uma engenharia desoladora, que cometeu o genocídio de milhões e milhões de pessoas inocentes! Ao ler o livro, portanto, vemos que, a cada passo dado por esse regime ditatorial, havia a omissão do chamado mundo livre. O livro não apenas expõe o comunista, mas também o homem livre que fecha seus olhos diante da realidade. Os erros cometidos pelo homem livre não se devem ao fato de não se conseguir adiantar e prever os movimentos do inimigo, mas à recusa de não dar ouvidos aos gritos insistentes dos inocentes. Houve incompetência sim! Não há dúvida. Houve incompetência e estupidez, mas houve coisa pior também por parte dos “homens livres”. Houve interesses escusos de se deixar sacrificar inocentes para se garantir uma estabilidade ou a manutenção de um status quo. Duas estratégias vitoriosas usadas pelo programa comunista foram o uso da falsa propaganda, fazendo com que, em muitos eventos no século XX, os comunistas fossem vistos como os democratas e libertadores da opressão, angariando com isso muitos simpatizantes e, como segunda estratégia, infiltrar espiões nos Governos, Diplomacias, Imprensa em geral e na classe artística, para que, na hora das grandes tomadas de decisão internacional, esses grupos fossem acionados para fazer com que as peças no tabuleiro se movessem a seu favor. Exemplo disso foi a União Soviética ter entrado na Organização das Nações Unidas, entidade criada para agregar os países amantes da liberdade. Não apenas a URSS entra na ONU, mas ela é membro fundador e ocupa a cadeira do Conselho Geral, ao lado dos Estados Unidos, França e Inglaterra. Esse Conselho toma decisões às quais os demais países são obrigados a acatar (obrigados numa organização criada para a liberdade?!). Não fosse isso suficiente, alguns anos mais tarde, depois de massacrar os nacionalistas chineses, que lutavam contra a comunização do seu país, assenta-se a República Popular da China nesse mesmo Conselho, representando mais um regime totalitário comunista na liderança da ONU. Assim, o autor vai mostrando como que os comunistas moveram a ONU para favorecê-los nas Guerras da China, Coréia e Indochina. Os diplomatas e a ONU chegaram a defender os ataques comunistas justificando que os vermelhos é que eram os libertadores democráticos, enquanto isso, os comunistas esmagavam os verdadeiros antifascistas.

Sob Khrushchev, a estratégia de dobrar os Estados Unidos e a ONU se fez ainda mais sagaz, ao ponto desse líder soviético ter feito uma visita à América e ao Presidente dos Estados Unidos, dando munição ao Partido Comunista naquele país! Da sua parte, Khrushchev conseguiu impedir que uma visita do Presidente americano fosse feita na URSS. E o pior, debaixo da mão de ferro de Khrushchev, se deu na revolução Húngara de 1956 um dos mais covardes atentados contra os direitos humanos. A situação da Hungria é uma das mais revoltantes, porque, mais uma vez, o chamado “mundo livre” fechou os olhos à destruição comunista ao país, enquanto o povo fazia apelos desesperados pelo rádio, sem entender como que os países capitalistas e livres deixavam os soviéticos, apoiados pela ONU, exterminarem o povo e tomarem de assalto o país. Entretanto, ainda como exemplo, o autor expõe toda ação da ONU, da Imprensa e da classe de artistas americanos que protegeu, divulgou, apoiou e levou ao poder um sanguinário psicopata como Fidel Castro ao poder! Em todos esses casos, quando esses líderes comunistas, uma vez no poder, instalavam suas ditaduras sanguinárias, o que se ouvia da parte da ONU, de diplomatas, da Imprensa e de artistas é que a ascensão desses líderes era algo “inevitável”! “Inevitável”?! Quanto asco me dá essa palavra, porque ela é a versão secular para “Deus quis assim”! E esse fatalismo de botequim, esse teologizismo de boteco, essa espiritualidade com falsas roupas de puritanismo, eu também tenho encontrado nestes anos todos de vida cristã. Um discurso religioso que coloca a responsabilidade de nossas ações na conta de uma soberania divina, que só é professada por esses quando o resultado de suas empreitadas se revela um enorme equívoco. É como se fosse a versão inversa do que nos ensinou Hannah Arendt — seria, então, uma “banalidade do bem”, em que essas pessoas abrem mão de julgar a si mesmas, colocando a responsabilidade moral de seus atos não mais no Estado, mas num deus culpado por levar as coisas ao ponto em que elas chegaram, a despeito dos crimes, erros e pecados individuais.

Portanto, todas essas coisas me fizeram muito mal durante a leitura desse livro. Elas me doeram a alma! Ainda que a Cortina de Ferro e o Muro de Berlim tenham ruído, mas das 45 metas comunistas para dominar os países livres, apenas uma delas não tinha sido ainda colocada em prática até 2014. Isso significa que o comunismo se reinventou e conseguiu avançar mundo afora, mesmo depois da queda da antiga URSS, vindo a se multiplicar e dominar a América Latina, por exemplo, pelo viés de eleições democráticas, como previa o próprio Karl Marx. Todas aquelas estratégias de domínio da imprensa, manipulação dos fatos, se vender como “democrático e livre”, como os “antifascistas” da história, tudo isso vemos ocorrer bem debaixo do nosso nariz, hoje em dia, no Brasil. A China foi perdida, a Coréia foi perdida, a Hungria e todos os demais países daquela época também. Ainda que a liberdade política tenha retornado a muitos desses lugares, o cativeiro marxista continua a enclausurar as mentes ao redor do mundo, pois é uma cosmovisão e não mais apenas um partido político ou um Governo. As estratégias continuam as mesmas: usar da propaganda de que os “fascistas” são os nacionalistas (que, na verdade, defendem seus países contra a desordem, a mentira e a corrupção dos comunistas), enquanto os "vermelhos" são vistos e defendidos pelas instituições difusoras de informação como “os heróis da liberdade”. 

            Fábio Ribas

Noites Brancas (XXXVIII/2024)

Na ordem cronológica dos romances de Dostoiévski, este é seu quarto livro. Embora haja em pelo menos seus outros dois livros, “Gente Pobre” ...