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quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

Hitler e o desarmamento (IX/2024)

 

"O ano de 1933 terminou com o triunfo do nazismo, o qual, desde o começo, usou a ameaça do comunismo para criar uma ditadura que era, se não mais, igualmente opressiva. Esse fato foi relatado precisamente, em dezembro de 1931, no diário do judeu alemão e veterano de guerra Victor Klemperer: “Eu equaciono o Nacional Socialismo ao Comunismo: ambos são materialistas e tirânicos; ambos desprezam e negam a liberdade do espírito e do indivíduo”".


“Hitler e o desarmamento — como o nazismo desarmou os judeus e os “inimigos do Reich”” é uma obra extensamente pesquisada, citando as fontes originais nas suas notas de rodapé. Stephen P. Halbrook procura mostrar que um regime totalitário não se instala da noite para o dia, porém, passo a passo, coloca seus tentáculos até que seja impossível retornar da sua presença sufocante e destruidora.

Na introdução, Halbrook nos apresenta a triste história de Alfred Flatow, ginasta judeu alemão, medalha de ouro das Olimpíadas de 1896. Sua história não apenas é emblemática para entendermos muito do que aconteceu com tantos judeus, mas, principalmente, para compreendermos o espírito por trás do regime que foi se instaurando dia a dia na Alemanha com a permissão de seus próprios cidadãos. Flatow, em 1932, registrou seus três revólveres, obedecendo à lei implementada pela República progressista de Weimar. Muitos cidadãos começaram esse processo de registrarem suas armas. Todavia, o que aprendemos é que esses registros foram usados contra os próprios alemães quando os nazistas tiveram acesso a essas informações arquivadas nas delegacias de polícia. A história de Alfredo Flatow, portanto, revela a escalada opressora do regime nazista. 

O nazismo desarmou todos os seus inimigos e isso fez parte do pogrom de controle total da sociedade. Ficou conhecida como “A noite dos cristais” a onda de violência do nazismo contra seus cidadãos, ameaçados a 20 anos de prisão nos campos de concentração, caso portassem armas de fogo. Assim, “os nazistas confiscaram as armas de fogo para prevenir uma resistência armada contra seus próprios crimes, fosse ela individual ou coletiva” (p. 10).

Como nos diz o autor, a Alemanha não possui nada parecido com a Segunda Emenda da Constituição dos EUA, que declara: “Sendo necessária à segurança de um Estado livre a existência de uma milícia bem organizada, o direito do povo de possuir e usar armas não poderá ser infringido”. A própria Suprema Corte americana busca defender esse direito da nação defendendo que “quando os homens capacitados de uma nação são organizados e treinados no manuseio de armas , são mais propensos a resistir à tirania” (p. 13). Já na contramão dessa mentalidade, a ONU busca suprimir o porte individual de armas ao mesmo tempo que defende o armamento dos governos.

Hanna Arendt observa que “foi só com a eclosão da guerra, em 1º de setembro de 1939, que o regime nazista tornou-se abertamente totalitário e abertamente criminoso” (p. 18). Sendo assim, é inevitável as perguntas que serão respondidas no correr do livro de Halbrook: “Por que não houve, na Alemanha, nenhuma rebelião armada contra Hitler? O desarmamento prévio facilitou a crescente agressão contra os judeus?”. O autor ainda observa que “nos países ocupados, os nazistas decretaram pena de morte aos que possuíssem armas de fogo, mas houve casos de resistência, como a heroica revolta do gueto de Varsóvia” (p. 18).

O caos que se instaurou na Alemanha após a primeira Guerra foi o fermento que permitiu o surgimento de vários grupos guerrilheiros. Um deles desponta no cenário liderado por um jovem chamado Adolfo Hitler. Mussolini, na Itália, já dominara o Parlamento e o povo por meio do desarmamento, quando Hitler ainda era apenas mais um revolucionário entre tantos espalhados pela Alemanha. As políticas de desarmamento, cuja pretensão era criar ordem e segurança contra os grupos rebeldes, na verdade, só geraram ainda mais caos. Como as leis eram confusas e ambíguas, cada estado alemão passou a adotar também suas legislações de desarmamento. O cidadão de bem que quisesse ter uma arma possuiria até 15 tipos de licenças diferentes. O primeiro grupo que sofreu forte desarmamento foram os ciganos. Só uma década depois os judeus sofreram seu desarmamento. Mas, com o tempo, o desarmamento não cumpriu o que prometia, que era acabar com a delinquência, pois ocorrera lá o mesmo que no Brasil, desarma-se exatamente o cidadão de bem, que é quem poderia apoiar o governo democrático numa tentativa de tomada do poder por comunistas e nazistas. Enfim, a República de Weimar se autossabotou. Quando os nazistas tomaram o poder, eles usaram da própria legislação do desarmamento criada pela República de Weimar para o domínio totalitário sobre a Alemanha. Quando a SA de Joseph Goebbels apossou-se das delegacias, todas as informações estavam à disposição para o desarmamento total.

Duas questões devem chamar a atenção na ascensão do nazismo na Alemanha: 1ª) a República de Weimar pavimentou a chegada dos nazistas (todas as leis desarmamentistas da República terminaram por servir ao propósito totalitarista do Nazismo); e 2ª) se Hitler conseguiu fazer o que fez sem a existência da Internet, imagine o estrago que ocorrerá hoje com a ascensão de um Governo Mundial ? O mais incômodo, quando lemos a História, é que as pessoas nunca imaginam que “isso ocorrerá de novo”. Um dos pontos fortes que o livro apresenta é que tiraram as armas dos cidadãos de bem, exatamente aqueles que poderiam ter defendido a República de Weimar na tomada do poder pelos nazistas. Mas quem criou as leis desarmamentistas? A própria República de Weimar! É o famoso ovo da serpente! Todas, vou repetir, TODAS as nossas informações estão hoje na Internet, sequer é papel em arquivos num lugar específico. Está tudo à disposição na nuvem para qualquer um que decida uma tomada mundial do poder. Acho mesmo que a ascensão de tal Governo seja inevitável. Já estamos expostos e é impossível voltar. O Governo controla facilmente nossas informações. A hora que alguém disser que prenderá quem possui arma em casa ou que, se não tiver tomado as vacinas, não poderá assumir um emprego, por exemplo, quem impede? Leis vão sendo mudadas para servirem aos donos das leis e, mesmo a despeito das leis, o Poder as atravessará à revelia. Foi assim em passado recente e é o que ocorre o tempo todo, em escala menor, bem debaixo dos nossos narizes. Ainda que você não acredite (muitos não acreditavam no que ocorria nos campos de concentração da Alemanha), o mundo vem sendo preparado e experimentos de reengenharia social vêm ocorrendo como amostras do que teremos pela frente. Todavia, nada ocorre fora dos decretos de Deus. É a ira dEle sendo derramada e, para tal, o mal é um instrumento de Deus para a realização da Sua vontade. Enquanto isso, é o tempo da Igreja proclamar o Evangelho. Até que Jesus Cristo, o Senhor dos senhores, retorne em glória, creia você ou não.

Por fim, cabe lembrar que Hitler subiu ao governo legalmente. O “golpe de estado” dos nazistas se deu mediante o voto popular. As perseguições, invasões de domicílio, apreensões de armas, prisões etc estavam ocorrendo na “legalidade”. Esta história recente tem que nos alertar de como um governo totalitário toma assento gradativamente.

“A noite dos longos punhais” foi o marco do poder total conquistado por Hitler. Este evento marca a eliminação até dos amigos de Hitler. Depois, toda a máquina vai andando para o domínio total. A Gestapo agindo como polícia Estatal de Hitler. A retirada total das armas das mãos dos “inimigos do Estado”. Associado a tudo isso, a lei sendo usada a favor de Hitler e até mesmo a nazificação das igrejas protestantes. Por fim, os nazistas registraram todos os judeus e deram aos homens novas certidões: aos homens foi acrescentado um primeiro nome, Israel; às mulheres, Sara. Nada mais impedia o domínio nazista. O único grupo armado que poderia impedir a tirania permaneceu em silêncio diante de tudo: as forças armadas! Isto nos faz pensar no Brasil?

Houve resistência entre o povo alemão a Hitler. A história de Sophie Scholl mostra como uma juventude se organizou contra a doutrinação coletivista e enfrentou o Nacional-Socialismo. A história dela está no youtube e numa versão legendada. Ela tinha apenas 21 anos de idade, luterana e, fortemente criada nos valores cristãos, Sophie, seu irmão e mais alguns amigos fizeram parte do grupo antinazista chamado “Rosa branca”. A história desses jovens alemães precisava ser conhecida. Um filme forte sobre uma menina cristã lutando contra um monstro!


            Fábio Ribas


Leia também: "Armas de fogo"

sábado, 17 de fevereiro de 2024

A casa da sabedoria (VIII/2024)

 


O tom belicoso do livro estraga a proposta. A intolerância e a antipatia com os cristãos europeus mostram um historiador totalmente comprometido com um dos lados. Mas Lyons não é historiador. Ele é um repórter. Por isso sua escrita flui clara ao leitor, mas o revanchismo transborda cada vez que adentramos mais e mais em sua obra.

A intolerância do autor se revela na medida em que ele faz com o Ocidente o que ele o acusa de fazer com os árabes: uma caricatura intolerante e desonesta. A hora em que Lyons começa a citar Agostinho e Paulo e distorce seus textos para atribuir ideias que eles nunca defenderam, então, vemos do que Lyons é capaz. O livro começa promissor, uma vez que já nos apresenta uma linha do tempo e também uma lista dos personagens históricos. Pensei que o livro seria uma apologética da influência inegável que a ciência árabe teve sobre o Cristianismo Medieval. Contudo, o tom do livro é bem outro.

Desde a reclusão da pandemia, aproveitei para estudar a língua e a cultura de vários países árabes. Li livros de autores egípcios, libaneses e palestinos. Saí dessa esfera e passeei entre persas e turcos. Li prosa e muita poesia. Entre “mocinhos e bandidos”, posso afirmar que somos todos pecadores. Ouvi discursos atravessados, magoados e feridos. Sei que há uma “direita” que defende uma Palestina para palestinos, assim como há uma onda de judeus que não defendem o sionismo. E há muita ficção revolucionária com grupos do Ocidente defendendo partidos religiosos que, uma vez no poder, já mostraram que iriam para cima desses mesmos grupos que os defendem por aqui. Enfim, a situação é complexa e há de todos os lados quem defenda suas bandeiras, justas ou não, da pior maneira possível. Lyons é um desses. Talvez tenha sido, para mim, mais forte a postura agressiva dele, depois de ler tantos bons autores que souberam colocar seus argumentos com muito mais lucidez e equilíbrio, ainda que com muita paixão. 

Lyons está fazendo um desserviço ao diálogo entre o Ocidente e o Oriente. Suas inúmeras notas de rodapé se perdem na intolerância e no ódio que ele revela tanto no deboche como nas distorções do seu livro. Uma pena. Como disse, tenho lido livros muito bons sobre a história e a cultura árabes, mas este de Jonathan Lyons é um retrocesso no entendimento entre as civilizações. O adjetivo mais usado no livro para descrever o mundo não árabe é a palavra “tosco”: o Ocidente é tosco; a Europa é tosca; os cristão são toscos; nossa educação, filosofia e religião são toscas. Um desperdício de pesquisa nas mãos de um adepto ideológico, para quem os cristãos são uma horda de ignorantes bárbaros e atrasados. Seu livro parece sair da pena do mais radical e anticatólico pensador iluminista da Revolução Francesa. Para Lyons, assim como para o Iluminismo, prevalece a mesma distorção de ver a Idade Média como uma “tosca” Idade das Trevas. 

Um ponto positivo do livro é vermos como que o “capitalismo”, o comércio entre os povos, é capaz de neutralizar as inimizades. Os laços econômicos entre árabes e cristãos, que só puderam acontecer por causa das Cruzadas, é também mencionado no livro. Assim, a troca entre culturas é sempre bem-vinda. Todavia, interesses obscuros atuam hoje, assim como atuaram no passado e, se o espírito revanchista de Lyons é o que impera no Oriente contra o Ocidente, então devemos todos orar e nos preparar para a ira que espera por se derramar nos próximos anos. 

                                Fábio Ribas

sábado, 10 de fevereiro de 2024

Viciados em mediocridade (VII/2024)

 


  Iniciei o pequeno, mas contundente livro de Frank Schaeffer, cheio de melindres devido ao que já sabia de sua atual rebeldia contra a pessoa e religião de seu pai e de sua mãe. “Viciados em mediocridade”, que só foi publicado no Brasil em 2008, saiu originalmente em 1982, portanto, um livro escrito e publicado décadas antes de quaisquer polêmicas posteriores. Pesquisei e li bastante material sobre a controvérsia dele com sua família. De fato, é muito triste, mas sempre há algo a nos ensinar. A cada novo fato que lia sobre as acusações de Frank Schaeffer aos seus pais e à comunidade de L’abri, ficava pensando em como seria um livro sobre mim e minha esposa escrito pelas minhas filhas. O que elas terão a falar e a recordar de nossa vida familiar e missionária? Verdadeiramente, todo pai e mãe cristãos têm um ministério recebido por Deus, um campo missionário desafiador, que são seus filhos. E jamais poderemos negligenciar este ensino evangélico de que nada nos adiantará ganhar o mundo, se perdermos a nossa própria alma. Assim, à parte da inevitabilidade da apostasia própria dos réprobos (e isto é um decreto eterno do qual não temos o menor controle), precisamos acompanhar as ovelhinhas que Deus colocou sob nossa responsabilidade, discernindo seus sinais de dúvidas quanto à fé que ensinamos e os possíveis sinais de negligência emocional, que, porventura, possamos estar cultivando neles.

 

    A apresentação de Sergio Pavarini ao livro de Frank Schaeffer adianta um pouco a rebeldia do atual Frank. Há dois livros dele que gostaria de ler e que já estão na lista de leitura deste ano: o “Loucos por Deus”, livro em que ele descreve sua relação conturbada com seus pais e o ministério no L’abri; o outro livro, “Por que sou um ateu que acredita em Deus”, é o da derrocada espiritual, em que Frank absorve essa espiritualidade flácida, sem cor e sem gênero de uma religiosidade à sua imagem e semelhança, bem ao gosto do público pós-moderno. Mas, neste texto, vamos ao “Viciados em mediocridade”.

 

    Ao contrário de outros livros que tenho lido, Frank dá o seu entendimento pessoal do que ele entende o que seja “artes”. E um dos pontos que ele logo nos chama a atenção é que aquilo que mais nos diferencia dos animais é a criatividade. Todavia, uma criatividade que precisa se mostrar na nossa habilidade em desfrutarmos de Deus e das pessoas. Assim, Frank entende arte como toda e qualquer expressão humana. Desde as “artes nobres” de um Michelângelo até as atitudes simples de uma cor que escolhemos para nosso quarto. Sendo a criatividade oriunda da nossa imagem e semelhança, é incompreensível para Frank que a Igreja negligencie tanto a arte em seu meio. E pior, que a igreja permita que a mediocridade que rodeia a igreja entre nela e determine o mau gosto nas músicas, na poesia, nos prédios e, até mesmo, no sermão pregado.

 

    Repetindo Rookmaaker, Frank afirma que a arte não precisa de justificativa, pois ela nasce de nossa imagem e semelhança dada por Deus. Ela simplesmente acontece e a beleza deveria surgir naturalmente na vida de cada um de nós. Mas, por que a Igreja negligencia a arte? A arte é importante para Deus. Basta vermos como que sua criação revela os detalhes de uma beleza “inútil”. Achei essa perspectiva de beleza “inútil” muito legal: “…vivemos em uma explosão pródiga em diversidade e beleza. Vivemos em um mundo repleto de beleza “inútil”, milhões de espécies, e indivíduos de infinita variedade, infinitos talentos e incontáveis habilidades” (p. 14). Desta ideia, o autor nos lança a mais duas: a beleza fora do planeta terra e — eis mais uma ideia fascinante para mim — a beleza que sequer vemos, mas que está no mundo espiritual e que teremos a eternidade para contemplá-la! Diante de tudo isso, Frank nos lembra que essa negligência com a arte é coisa recente, pois, historicamente, a Igreja sempre valorizou as artes como veículo da expressão humana: “Cristãos por muitos séculos dominaram a expressão criativa; eles a abraçaram, a apreciaram, a protegeram e se alegraram com ela, tomando-a como manifestação do dom divino aos homens” (p. 15).

 

    Defendida a tese da importância da arte, da criatividade, da beleza, dos dons e talentos, Frank mostra como que ficamos “viciados em mediocridade”. Houve, então, uma bancarrota que a Igreja se permitiu, perdendo sua relevância e seu papel de ponta no guiar a sociedade para valores mais altos. “Perdemos a habilidade de ser o sal da sociedade”, denuncia Frank. Como isso ocorreu? Segundo o autor, ou por estupidez e inabilidade de entendermos o problema ou por partirmos de um fundamento, princípios e pressupostos errados. Por tudo isso, o autor apregoa que esse sentimento anticultural e antiartístico da Igreja “vem da falta de compreensão das verdades bíblicas e do cristianismo aplicado às artes” (p. 22). O autor segue mostrando que houve fatores externos e internos que trouxeram a situação ao ponto em que se encontra: 1º) o secularismo que entrou e moldou pobremente a mentalidade da igreja; e 2º) a espiritualidade platônica que interpretou inequivocamente o mundo em “secular” e espiritual”. E para o autor, “o vazio deixado pelo desaparecimento de pessoas criativas no seio da comunidade cristã” tem se evidenciado especialmente na falta de habilidade para nos comunicar com o mundo e na nossa esterilidade sombria.

 

    Em determinado momento de “Viciados em mediocridade”, em dois, para ser mais preciso, lembrei-me de “Confissões de um pastor”, da Caio Fábio. Quando esse livro foi lançado, nenhum escândalo havia estourado publicamente ainda. Todavia, havia duas ou três situações estranhas que ele descreveu em seu livro que, na hora, compartilhei com minha esposa. Eram relacionadas ao casamento e vida sexual. Mostravam que havia coisas não resolvidas nessa área na vida dele. Quando, enfim, o adultério veio a público, isso só confirmou “os sinais” que ele havia deixado no livro. O “Viciados em mediocridade” foi escrito durante a década de 80, mas também há sinais, pistas, indícios que, mais tarde, revelariam que algo não estava bem tratado e curado no coração de Frank sobre seus pais. Ele viria a publicar um outro livro em 2008 (o “Loucos por Deus”, que eu comentei no início), no qual revelaria os bastidores dessa relação com seus pais. Por isso, não causou estranhamento algum que, por duas vezes, Frank faça questão de defender que verdadeira espiritualidade é cuidar e estar presente dentro de casa, com sua família. “Verdadeira espiritualidade” é um dos títulos de livro de Francis Schaeffer, que, segundo ele próprio dizia, era o último livro publicado por ele, mas o primeiro que deveria ser lido antes de toda sua obra.

 

                            Fábio Ribas

sábado, 3 de fevereiro de 2024

A arte e a Bíblia (VI/2024)

 


    Nenhuma obra de arte é mais importante que a própria vida do cristão e todo cristão deve se preocupar em ser um artista nesse sentido. Ele pode não ter o dom da escrita, nem da composição ou do canto, mas toda pessoa tem o dom da criatividade no que diz respeito à forma como vive a sua vida. Nesse sentido, a vida do cristão deve ser uma obra de arte. A vida do cristão deve ser algo verdadeiro e belo em meio a um mundo perdido e desesperado — Francis Schaeffer

    Já havia dado ao curso de Comunicação Intercultural, que ofereço à formação de missionários, uma abordagem pelo viés da arte. Ler agora Schaeffer e Rookmaaker tem sido, então, uma experiência prazerosa para uma reflexão mais bíblica e teológica sobre a Arte e a Missão. Deixarei aqui um artigo que escrevi há muitos anos (“Por que devemos comer com os pecadores?”) e que sempre passo aos alunos para uma introdução à conversa.

    O nosso Deus é o Deus da beleza. Achei Francis Schaeffer mais flexível do que Rookmaaker no trato com o que seja a obra de arte. Na verdade, Schaeffer não discuti o conceito de obra de arte (nem Rookmaaker aqui), mas apresenta a base bíblica que deve levar a Igreja a se envolver com a arte. Schaeffer já trabalha com o conceito de cosmovisão. Rookmaaker afirma que a arte revela uma mentalidade. Assim, ambos trazem este acordo: se a igreja quer evangelizar a sua geração, ela não deve abrir mão da leitura dessa arte produzida e nem os artistas cristãos devem negligenciar que sua arte oferece ao mundo uma visão.

    A nossa arte precisa não ser meramente evangelística (como já afirmara Rookmaaker), mas deve ser cristocêntrica e teorreferente. O Senhorio de Cristo deve abranger o homem como um todo. Assim, por que deixaríamos a arte de fora?

    A partir de 4 premissas bíblicas, Schaeffer nos oferece um caminho para nos envolvermos com as artes: 1) Deus fez o homem todo; 2) Em Cristo o homem todo é redimido; 3) Cristo é Senhor do homem todo agora e Senhor da vida cristã toda; 4) No futuro, quando Cristo retornar, o corpo será ressuscitado dentre os mortos e o homem todo terá uma redenção completa. Esta última premissa clareia o fato de que não há área humana que não esteja contaminada pelo pecado, inclusive as artes. Devemos tratar essa questão sem romantismo e ingenuidade. Há limites. Contudo, em Cristo, há imensas possibilidades.

    “Adorar a arte é um erro; produzi-la, não”! Schaeffer mostrará a arte na Bíblia, desde o AT (o Tabernáculo, o Templo e o trono de Salomão são exemplos) até o NT. Gostei demais do fato que devemos fazer nossa arte diante de Deus (Coram Deo), pois ainda que os homens não a vejam, Deus vê. O autor irá tratar da música, da poesia, do teatro, dança etc. O que eu mais gostei, contudo, é que a arte entrará no Céu.

    Na segunda parte do livro, Schaeffer tratará das 11 perspectivas com as quais o cristão deve se relacionar, abordar e julgar a obra de arte. “…tendo sido feitos à imagem do Criador, somos chamados à criatividade” (p. 46). Schaeffer fornece 4 padrões de julgamento, que, eu acredito, precisamos estar atentos ao nos aproximarmos da arte: 1) excelência técnica; 2) validade; 3) cosmovisão; e 4) integração entre o conteúdo e o veículo (p. 53). Eu quero também avançar mais nessa ideia sobre a pregação (p.54 e 62). IMPORTANTÍSSIMO: “…podem ser feitas afirmações proposicionais em prosa, pode haver afirmações proposicionais em poesia, pintura e praticamente todo tipo de forma artística” (p. 61).”

            Fábio Ribas

Todas as fontes estão em Ti (XXIII/2024)

Carlos Nejar é um poeta recém-descoberto. Todavia, ele publica vasta e variada literatura desde 1960. O currículo a seguir, retirado de uma ...